16 de maio de 2015

Brutal & viral



O real e o imaginário cruzaram-se comigo esta semana. De rompante e sem aviso prévio. As notícias ao minuto e as páginas dum romance levaram-me à problemática do bullying. Coincidências. Por outras palavras pedidas emprestadas ao Dicionário Priberam: «(c)onjunto de maus-tratos, ameaças, coações ou outros atos de intimidação física ou psicológica exercido de forma continuada sobre uma pessoa considerada fraca ou vulnerável».

O faits-divers mediático diz-nos que, durante 13 minutos, um gang de oito jovens, na casa dos 16 anos, agrediu um outro de 17. Gravaram o ato, deixaram-no alguns meses a ganhar patine e colocaram-no agora na Net. A dar crédito aos mass media, poucas horas depois de ter sido publicado, o vídeo contava já com mais de meio milhão de visualizações e cerca de trinta mil partilhas nas redes sociais, suscitando insultos e comentários de repúdio.

O testemunho literário tem-me estado a ser transmitido estes dias por Mario Vargas Llosa, em La ciudad y los perros (1962), relato de formação semibiográfico com que se estreou no universo das letras há mais de meio século. Os episódios de puro sadismo, de praxes académicas de cariz militarista, excessivas e gratuitas, perpetradas pelos alunos mais velhos sobre os seus colegas mais novos, surgem a cada momento. A uma cadência alucinante. Imparável.

O factual como mimese do ficcional. A vida a inspirar a arte. As histórias ocorridas a rivalizarem com as fingidas. Tão chocantes umas como as outras. Fenómeno antigo replicado de geração em geração. Em casa, na escola, na caserna. Ritos de iniciação. Perpetuação de modelos marginais de transgressão tolerada. O esconde e foge a jogar com o agarra e revela. A ponta dum iceberg ocasional a transformar-se num caso brutal de propagação viral.

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