20 de agosto de 2018

Dom Robertos de praia

        Raquel Roque Gameiro Ottolini        

TEATRO PRAIA TÍTERES

O meu primeiro dente de leite rompeu-me as gengivas aos três meses. Deve ter sido ajudado pelo ar do mar. Ocorreu numa manhã de julho num ambiente de praia. Nas décadas de 50/60, a época balnear começava com o solstício de verão e só findava com o equinócio de outono. Depois de iniciada a idade escolar, as férias grandes encurtaram um pouco e limitaram-se às quatro semanas e meia de agosto e umas pitadas de setembro. 

As manhãs da minha infância na Areia Branca decorreram sempre com grande animação. Jardins de algas, castelos de areia molhada, banhos de mar e sol. Merendas de pão fateado e fruta fresca a meio da jornada. Um gelado de vez em vez ou uma bolacha americana. A partir de determinada altura, começámos a querer imitar os piqueniques d'Os Cinco. A Enid Blyton estava então na moda e fazia parte dos nossos hábitos de leitura.

De quando em quando uma trupe de Dom Robertos descia à aldeia de barracas de madeira e de pano às riscas. O teatro de fantoches de chita vestido assentava arraial junto aos baloiços, para alegria de miúdos e graúdos. As vozes de cana rachada e as cacetadas nas cabeças de pau contavam histórias de títeres belicosos com enredos de faca e alguidar há muito esquecidos. Memórias antigas avivadas com muito sol, muito mar e muito verão.

5 comentários:

  1. Memórias de infâncias felizes. Cresci na cidade e íamos à praia de quando em vez, antes de 25-04-74, iamos para a praia de Cascais, era uma aventura, primeiro o autocarro até Algés, depois o comboio. Toalhas, lanche e almoço de tacho! Depois de 25-04-74, passámos a frequentar a praia de Sto Amaro de Oeiras. Férias felizes, mesmo sem fantoches!

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  2. Recordar é reviver! Um registo bem feliz!

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  3. Muito gostava eu de ver os Robertos. Não entendia o que diziam, mas as traulitadas nas cabeças faziam rir. Tempos idos mas memórias frescas.

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  4. Lembro-me bem desses teatrinhos de praia. Invariavelmente havia um diabo, uma personagem chamada Serafina e um outro, cujo nome esqueci, munido de um cacete com o qual corria o diabo à cacetada. Isso e as bolas de Berlim são as minhas melhores recordações das idas à Costa da Caparica.

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  5. Esqueci-me completamente dos pormenores, como nomes e enredos, só me ficou na memória o ruído seco das cacetadas e o som estridente dos bonecos lutadores. Nunca vi, que me recorde, nenhuma bola-de-berlim na praia da Areia Branca, que por então era adepta da bolacha americana às vezes apregoada de barquilhero. Memórias fragmentárias que de quando em vez andam à solta por aí...

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