23 de setembro de 2018

Bilhete postal de verão às portas do outono


BORDALO II – «Quando o LIXO se torna ARTE»

DISFORIAS

A ria e os campos estão a arfar de calor, o verde das plantas empalidece como vomitado, a água da ria jaz para ali salobra, rasa e escura, cheia de garrafões de plástico partidos, latas de bebidas com as cores apagadas pelo sol, fragmentos de caixotes de madeira carcomida como dentaduras de caveira. Ao longo da margem, as árvores parecem pedintes a exibir o aleijão das folhas cobertas de pó ressequido. 

Em todas as sarjetas deste sul de pobres, há sacos de plástico, pedaços de papel de jornal amarelecido, garrafas partidas, lixo espalhado em frente das montras rachadas onde empalidecem de sujidade os letreiros da troyka e dos filhos da puta que a troika serve, «Vende-se», «Aluga-se», «Trespassa-se».

Paulo Varela Gomes, O verão de 2012 (2013: 89)

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