Por mares nunca de antes navegados...
Luís de Camões , Os Lusíadas (I. i, 3)
[Paço dos Cabrais - Belmonte] |
De mar em mar, de porto em porto
Jorge Dias defendia em 1950 que a unificação e permanência da nação se devia ao mar. A tese apresentada em Washington, no Coló-quio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros*, assentava em quatro pilares do génio criador português. O literário da Epopeia de Camões, o arquitetónico do Mosteiro dos Jerónimos, o pictórico dos Painéis de Nuno Gonçalves, o musical dos Tentos de Manuel Rodrigues Coelho. Barcas, caravelas, carracas, naus e galeões fizeram a festa. E se navegar é preciso, que naveguem até nós. Réplicas antigas e versões recentes. Porque viver também é preciso. E venham lugres, fragatas e veleiros com bons ventos e marés.
O Creoula veio ter comigo em Copenhaga sem eu o ter chamado. Estava a participar numa regata internacional com partida da cidade da Sereiazinha, que ficou a olhar tranquilamente à distância. Corria o verão de 1988. Dias quentes, noites frias, sol e chuva o tempo todo, a picarem o ponto e a revezarem-se pacificamente. Quis a Fortuna que a nossa embaixada convidasse os nacionais residentes ou em trânsito para uma receção no navio-escola lusitano em águas dina-marquesas. A visita ao antigo fuste pesqueiro da Terra Nova culminou com um bacalhau à lagareiro com batata a murro, regado com azeite extra virgem e brindado com um porto de honra.
2. D. FERNANDO II & GLÓRIA: FRAGATA
Avistei há dias à D. Fernando II e Glória em Cacilhas ao estacionar o carro no parque contíguo ao porto. Deixa-se visitar como peça de museu ao preço módico dum bilhete individual ou coletivo. Está acompanhada do submarino Barracuda em estado periclitante de conservação. A fragata, em contrapartida, goza de boa saúde. Já a tinha visto ao largo, em 1998, aquando da Expo de Lisboa. Imponen-te. Acabada de restaurar e transformada numa atração dos 500 anos dos Descobrimentos Portugueses. A frisar serem «Os oceanos: um património para o futuro». A receção foi feita no Mar da Palha, sem direito a banquete, mas com muito fogo de artifício.
Fui propositadamente ao encontro do Sagres na sua primeira visita a Faro. Estava fundeado no cais comercial da cidade, já preparada para celebrar o dia do município a 7 de setembro. Fazia-lhe companhia o Boa Esperança, um fac-símile perfeito do caravelão com que Bartolomeu Dias dobrou o cabo das Tormentas em 1488. O anão e o gigante lado a lado, proa com popa. Vistas bem as coisas, tratou-se dum reencontro com o mais mediático navio-escola da marinha portuguesa. Já o avistara em 1977 num cenário francês, na marina bretã de Saint-Malo. Convívios felizes, gerados por bons ventos e marés, a navegar de mar em mar, de porto em porto.
NOTA
(*) Jorge Dias, O essencial sobre os elementos fundamentais da cultura portuguesa. Lisboa: IN-CM, 1986.
(*) Jorge Dias, O essencial sobre os elementos fundamentais da cultura portuguesa. Lisboa: IN-CM, 1986.
Gostei da descrição que fez das embarcações que nos transportaram e de algumas que nos continuam a transportar por esses mares. É interessante a ideia de o mar ser um fator de união lusitana. Sempre vivi perto do mar, aprecio o campo, mas, o mar...
ResponderEliminarAinda há quem navegue por mares nunca dantes navegados nos barcos dos nossos antepassados. Bom dia. (Visitei-os quando da Expo 98. O barracauda só conheço por fora e está a apodrecer)
ResponderEliminarAproveitemos a sua presença enquanto dura e a ferrugem não o devora completamente. O Titanic mergulhou sem ser submarino nas águas geladas do Atlântico Norte em 1911 e ainda por lá resta a deixar-se visitar pelos mais afoitos...
EliminarMuito característico de Portugal, a grande aventura mundo afora, estas histórias nos fazem viajar junto. Obrigado!
ResponderEliminarUi, já nem me lembrava dessa visita ao Creoula em 1988! Abraço!
ResponderEliminarÉ bem verdade, sem esquecer entretanto de provar as especialidades que nos são oferecidas nos países que visitamos. Assim se vai cultivando os sentido dos sentidos...
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