14 de setembro de 2018

Um lugre, uma fragata, um veleiro

Por mares nunca de antes navegados...

Luís de Camões , Os Lusíadas (I. i, 3)
[Paço dos Cabrais - Belmonte]

De mar em mar, de porto em porto

Jorge Dias defendia em 1950 que a unificação e permanência da nação se devia ao mar. A tese apresentada em Washington, no Coló-quio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros*, assentava em quatro pilares do génio criador português. O literário da Epopeia de Camões, o arquitetónico do Mosteiro dos Jerónimos, o pictórico dos Painéis de Nuno Gonçalves, o musical dos Tentos de Manuel Rodrigues Coelho. Barcas, caravelas, carracas, naus e galeões fizeram a festa. E se navegar é preciso, que naveguem até nós. Réplicas antigas e versões recentes. Porque viver também é preciso. E venham lugres, fragatas e veleiros com bons ventos e marés.
O Creoula veio ter comigo em Copenhaga sem eu o ter chamado. Estava a participar numa regata internacional com partida da cidade da Sereiazinha, que ficou a olhar tranquilamente à distância. Corria o verão de 1988. Dias quentes, noites frias, sol e chuva o tempo todo, a picarem o ponto e a revezarem-se pacificamente. Quis a Fortuna que a nossa embaixada convidasse os nacionais residentes ou em trânsito para uma receção no navio-escola lusitano em águas dina-marquesas. A visita ao antigo fuste pesqueiro da Terra Nova culminou com um bacalhau à lagareiro com batata a murro, regado com azeite extra virgem e brindado com um porto de honra.

2. D. FERNANDO II & GLÓRIA: FRAGATA

Avistei há dias à D. Fernando II e Glória em Cacilhas ao estacionar o carro no parque contíguo ao porto. Deixa-se visitar como peça de museu ao preço módico dum bilhete individual ou coletivo. Está acompanhada do submarino Barracuda em estado periclitante de conservação. A fragata, em contrapartida, goza de boa saúde. Já a tinha visto ao largo, em 1998, aquando da Expo de Lisboa. Imponen-te. Acabada de restaurar e transformada numa atração dos 500 anos dos Descobrimentos Portugueses. A frisar serem «Os oceanos: um património para o futuro». A receção foi feita no Mar da Palha, sem direito a banquete, mas com muito fogo de artifício.
Fui propositadamente ao encontro do Sagres na sua primeira visita a Faro. Estava fundeado no cais comercial da cidade, preparada para celebrar o dia do município a 7 de setembro. Fazia-lhe companhia o Boa Esperança, um fac-símile perfeito do caravelão com que Bartolomeu Dias dobrou o cabo das Tormentas em 1488. O anão e o gigante lado a lado, proa com popa. Vistas bem as coisas, tratou-se dum reencontro com o mais mediático navio-escola da marinha portuguesa. Já o avistara em 1977 num cenário francês, na marina bretã de Saint-Malo. Convívios felizes, gerados por bons ventos e marés, a navegar de mar em mar, de porto em porto.

NOTA
(*) Jorge Dias, O essencial sobre os elementos fundamentais da cultura portuguesa. Lisboa: IN-CM, 1986.

6 comentários:

  1. Gostei da descrição que fez das embarcações que nos transportaram e de algumas que nos continuam a transportar por esses mares. É interessante a ideia de o mar ser um fator de união lusitana. Sempre vivi perto do mar, aprecio o campo, mas, o mar...

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  2. Ainda há quem navegue por mares nunca dantes navegados nos barcos dos nossos antepassados. Bom dia. (Visitei-os quando da Expo 98. O barracauda só conheço por fora e está a apodrecer)

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    1. Aproveitemos a sua presença enquanto dura e a ferrugem não o devora completamente. O Titanic mergulhou sem ser submarino nas águas geladas do Atlântico Norte em 1911 e ainda por lá resta a deixar-se visitar pelos mais afoitos...

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  3. Muito característico de Portugal, a grande aventura mundo afora, estas histórias nos fazem viajar junto. Obrigado!

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  4. Ui, já nem me lembrava dessa visita ao Creoula em 1988! Abraço!

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  5. É bem verdade, sem esquecer entretanto de provar as especialidades que nos são oferecidas nos países que visitamos. Assim se vai cultivando os sentido dos sentidos...

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