11 de janeiro de 2019

Novas eras de ver as cores do arco-íris

Yoel Tordjman
colors wall.spring time
PALETAS
A nova ministra brasileira da Mulher, Família e Direitos Humanos afirmou ex cathedra evangélica e aquando da sua tomada de posse que menino veste azul e menina veste rosa. Na sua opinião, essa paleta cromática iniciaria uma nova era no Brasil. Nem merece a pena considerar a declaração da nova moda tropical como uma fake new, trote ou barrete mediático, porque foi registada em vídeo e posta a circular no Twitter, Facebook e demais redes sociais. Dá vontade de perguntar qual o verdadeiro significado nos dias de hoje do adjetivo «novo», se uma raridade inventiva do jamais vu ou duma relíquia sexista do déjà vu.

Caetano Veloso já se vestiu de rosa e eu lembrei-me do dia em que comprei uma camisa com riscas dessa cor, simplesmente porque gostei do efeito produzido pelo todo, sem me aperceber muito bem das piadas que mais tarde despertaria. O daltonismo foi então capaz de explicar esse meu deslize estético plasmado na subversão dos cânones vigentes na época. O episódio ocorreu na pretérita década de 80. As mentalidades estavam ainda muito presas a preconceitos de género que o fluir constante do tempo tem vindo a mitigar. Assim se mantenha sem recaídas de percurso como as ocorridas em Terras de Vera Cruz.

Falam-nos os faits-divers da descoberta duns óculos miraculosos capazes de suprimir as anomalias genéticas de visão que interferem na refração da luz e no acesso a toda a paleta revelada no arco-íris. Um dia destes ainda os vou testar. Talvez assim deixe de desirmanar os sapatos pela manhã, de estacionar sem dificuldade nos parques avessos a outro tipo de localização, de rever a Alice no País das Maravilhas em 3D sem a camuflagem das legendas no colorido dos cenários. Assim esta cura do daltonismo clínico se sentisse também eficazmente na cura da miopia política recente que por aí grassa a ritmo galopante.

3 comentários:

  1. Nunca me considerei e não considero homofóbica, e naturalmente considero um disparate separar o género pelos tons de roupa, porém, nunca apreciei ver uma criança/rapaz vestida com tons rosas e as crianças com preto. Não casa.
    Penso que herdei os tabus associados às cores.

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  2. Nunca liguei aos tabus cromáticos ou outros. As miopias políticas, essas sim, preocupam-me...

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  3. E o mais engraçado é saber que, antes da segunda guerra mundial, era precisamente o contrário. Vermelho ou rosa para meninos e homens, incluindo Cristo e azul para meninas ou nossa senhora.

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