6 de março de 2019

Revisitações pintadas da poesia de Eugénio de Andrade

                                              ... a cada gesto que faziam
                                              um pássaro nascia nos seus dedos
                                              e deslumbrando penetrava nos espaços.
                                              Eugénio de Andrade, Os amantes sem dinheiro (1950)

Poesia & Pintura

Vinte e seis pintores criaram a leitura visual de vinte e seis poemas de Eugénio de Andrade. Sinestesias iluminadas de desenhar cenários para imaginar histórias a contar. Deram-lhe a forma duma exposição coletiva na Biblioteca Municipal do Fundão, preparada sob a direção do mestre Alberto Péssimo e inaugurada a 13 de junho de 2015, por ocasião do décimo aniversário da morte do poeta. Converteram-na simultaneamente num livro eclético de registos plástico-verbais, reunidos por José Queiroga.   

Ficam por comentar os textos coligidos. Sinto uma certa relutância em fazê-lo. Situo-a na diferença básica que tenho de encarar de ânimo leve a singularidade da autodescrição em verso e a pluralidade da narrativa em prosa. A imagem fixa dum momento preciso que se confidencia em privado e a sequência de imagens em movimento que se divulga aos quatro ventos. A foto do álbum de família que foi excluída dum filme a ser projetado publicamente à cadência de 24 fotogramas por segundo.

Ignoro se estes 26 poemas de Eugénio de Andrade* revisitados pelo Atelier 26** dispõem duma distribuição comercial preparada à altura das palavras-imagens compiladas. Talvez o Município do Fundão, a Assírio & Alvim / Grupo Porto Editora e os herdeiros do poeta referidos na ficha técnica, em sintonia concertada com as livrarias e bibliotecas deste país, se tenham encarregado deste pequeno pormenor de divulgação da obra escrita e pintada. Ficaríamos todos a ganhar com a iniciativa.
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* EUGÉNIO DE ANDRADE: As mãos e os frutos: «Poema para o meu amor doente» e «Green god» (1948) | Os amantes sem dinheiro: «Os amantes sem dinheiro» (1950: ) | Até amanhã: «Coração habitado» e «Urgentemente» (1956) | Obscuro domínio: «Arte de navegar» (1971) | Véspera da água: «Sobre o caminho» e «É um dizer» (1973) | Matéria solar: «Podias ensinar à mão» (1980) | O peso da sombra: «É um dos mais belos sorrisos» (1982) | Branco no branco: «Ignoro o que seja a flor dada água» e «Encosta a face à melancolia» (1984) | O outro nome da terra: «Os amores» e «O sorriso» (1988) | Rente ao dizer: «Breakfast em Maspalomas» e «Último poema» (1992) | Ofício de paciência: «Fim de outono em Manhattan» e «A pergunta de Stevens» (1994) | O sal da língua: «O lugar da casa», «Verdade poética» e «Caem como pedras» (1995) | Os lugares do lume: «Sul» e «Quase elegia» (1998:) | Os sulcos da sede: «Aos jacarandás de Lisboa», «À beira de ser água» & «Ver Claro» (2001).

** ATELIER 26: Isabel Ribas | José Queiroga | Maria Guia Pimpão | Ana Vasco | Helena Homem de Melo | Félix Iglésias | Rui Silva Teixeira | Isabel Amaral | Odília Rocha | Isabel Rocha | Margarida Figueira | José Veloso | Amália Soares | Licínio Rego | Laura Maria | Isabel Aguiar | Fernando Barros | Alberto Péssimo | Adélia F. | Manuel Matias | Helena Oliveira | Teh | Carlos Ferreira | Madalena Pinheiro | Gonçalo Monteiro | Cácá.

1 comentário:

  1. Acima de tudo, considero esta iniciativa como uma feliz homenagem devida a um poeta de uma grande sensibilidade... Vamos ver se a distribuição comercial me dará o ensejo de ver o conteúdo destas páginas.

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