20 de novembro de 2020

Velázquez e as meninas da infanta

[Museo Nacional del Prado - Madrid]
menino, na
Del port. menino 'niño'.
1. m. y f. Niño de familia noble que entraba en palacio a servir a la reina o a sus hijos.
Diccionario de la lengua española - Real Academia Española

A figura da Senhora Infanta e Arquiduquesa Margarita María Teresa de Austria domina o retrato de família pintado por Diego Rodríguez de Silva y Velázquez em 1656. A protagonista tinha então cinco anos de idade e ainda lhe faltariam outros dez para se tornar na Imperatriz Consorte do Sacro Império Romano-Germânico e de trocar de vez o Cuarto del Príncipe e demais dependências do Real Alcázar de Madrid pelos salões do Kaiserlicher Palast de Hofburg em Viena, após o seu casamento com o tio materno e primo Leopold Ⅰ de Habsburg.

O pintor sevilhano representou a filha de Filipe Ⅳ de Espanha e de Mariana de Austria a olhar de revés para quem a olha de frente, de lado e de todos os ângulos possíveis, que tanto podem ser os pais refletidos no espelho da parede de fundo dos aposentos palacianos, como serem os visitantes que todos os dias admiram a tela exposta numa das salas maiores do Museo Nacional del Prado, desde a sua fundação em 1819 pela Rainha Consorte de Espanha Dona Maria Bárbara de Bragança, segunda esposa de Fernando Ⅵ de Borbón.

A futura soberana imperial está ladeada pe'Las Meninas, que dão nome ao óleo, então designado Retrato de la señora emperatriz con sus damas y una enana ou La familia del Señor rey Phelipe Quarto, depois simplificado para La familiaAs açafatas ou damas de honor da rainha, tal como a sua real senhora, vestem os guarda-infante e apresentam-se numa posição de vénia protocolar. De joelhos e com o olhar fixo na ama de doña María Agustina Sarmiento, levemente inclinada e com o olhar perdido no vazio de doña Isabel de Velasco.

Dão ainda colorido ao quadro e em posição destacada as figuras da anã hidrocéfala alemã Maribárbola Asquin, caricatura grotesca das nobres a quem servia e divertia, e do pajem de câmara e anão italiano de origem fidalga Nicolasito Pertusato, entretido a pisar um mastim deitado no chão. Num plano mais recuado e a meio corpo, vislumbra-se doña Marcela de Ulloa, camareira-mor da infanta e da rainha, a falar com o mentor don Diego Ruiz Azcona. Em pano de fundo, no vão duma porta, o aposentador José Nieto observa a cena. 

Os antigos aposentos do Príncipe das Astúrias Baltasar Carlos, onde o mais reputado artista da corte do Rey Planeta instalou o seu atelier, é completada com a presença do próprio pintor. Surge aos nossos olhos defronte do seu cavalete e em pleno labor, com o pincel numa das mãos e a paleta na outra. Ignoramos o que estará a pintar na grande tela colocada à sua frente e dos diversos grupos que nos são revelados no espaço pictórico. Digamos que um quadro dentro doutro quadro a acentuar a dinâmica barroca no seu melhor.

É sempre com grande prazer que dirijo o olhar para o retrato de família dum monarca espanhol que também foi português criado por um pintor espanhol com sangue português herdado dos avós paternos. Sempre que vou a Madrid apetece-me rever este flash do quotidiano palatino castelhano com um toque lusitano muito especialBoca de cena onde o autor plástico, num cruzamento de olhares e linhas de fuga, nos incita a entrar na oficina a observar o ato criativo em curso. Nessas ocasiões, não me faço rogado, aproveito o convite e entro.

2 comentários:

  1. Belíssimo quadro que tive a sorte de ver por fim no Museu do Prado, no ano passado, numa visita guiada por um curador entusiasta. Magnífico texto, Prof, que bem me recorda o essencial do que ele nos informou sobre o quadro, o pintor e os personagens. Obrigada pela partilha!

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  2. Magnífico e ilustrativo comentário sobre um belo retrato!

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