19 de julho de 2020

Viagem literária por Barcelona com Carlos Ruíz Zafón na bagageira...

EL CEMENTÉRIO DE LOS LIBROS OVIDADOS

Mapa de los lugares más emblemáticos de las novelas de Carlos Ruiz Zafón

Na pista da Sombra do Vento & do Jogo do Anjo

Em junho de 2009 voei para a capital da Catalunha para participar no «Col·loqui internacional sobre les relacions entre les literatures ibèriques», organizado pela Universitat Pompeu Fabra e Universitat de Barcelona. Levava preparada a comunicação «Terceira parte portuguesa do Guzmán de Alfarache. As metamorfoses do pícaro na visão do 1.º Marquês de Montebelo». Mas mais do que desenvolver aqui o contributo novelesco de Félix Machado de Silva e Castro e Vasconcelos, um grande de Portugal e de Espanha, que preferiu manter-se fiel a Filipe IV de Castela do que aderir à causa de D. João IV de Portugal, centrar-me-ei num vulto mais recente das letras hispânicas, com dimensão global, cujas tiragens (dizem os media) só são ultrapassadas pelo Don Quijote de Cervantes.

Tudo começou no aeroporto de Lisboa, quando deparei na estante da Relay local um Guia da Barcelona de Carlos Ruiz Zafón (2008), de Sergi Doria com um prólogo de Sergio Vila-Sanjuán. O título despertou-me de imediato a atenção, não só por se referir à ciutat condal que me esperava no final da viagem, mas, sobretudo, por destacar um autor que eu tinha descoberto recentemente e me enchera as medidas de forma inusitada. Adquiri de imediato o livro, deixei a zona dos duty & tax free shops, dirigi-me a um local tranquilo da sala de trânsito e comecei logo ali a leitura, que continuei a debitar enquanto sobrevoava os ares da Península Ibérica. Ao chegar ao meu destino já tinha traçado um plano de gestão dos tempos livres que o encontro académico me deixasse.

Ocupei o primeiro dia na grande metrópole catalã a estudar o trajeto que me levaria desde o Eixample até ao campus universitário da Estació de França. O encontro com a malha urbana descrita nas páginas da Sombra do Vento e do Jogo do Anjo iniciava-se também nesta caminhada inaugural, na catedral de ferro, lugar de partida e chegada das personagens mais emblemáticas da saga. Depois, nas pausas das sessões de trabalho, segui alguns percursos pedestres do roteiro literário. Achar a livraria dos Semper, espreitar o Ateneu Barcelonès, refrescar-me na fonte Canaletas, petiscar na taberna Els Quatre Gats, beber um chocolate no Cafè de l'Òpera, passar pela Carreter de l'Arc del Teatre no encalço do Cementiri dels Libres Oblidats. Tudo um faz de conta consentido de verdades mentirosas.

Nesse 19 de junho, uma sexta-feira, entrei na Casa dell Llibre do Passeig de Gracia e adquiri o romance Marina, o primeiro centrado em Barcelona. Neste 19 de junho, uma sexta-feira, o autor morria em Los Angeles. Há coincidências difíceis de entender, especialmente quando se referem a eventos separados por mais duma década. Foi a última vez que passeei pelas ramblas da ciutat dels misteris gòtics. Tenho de lá voltar um dia destes para rever os cenários das restantes partes da tetralogia entretanto concluída, O prisioneiro do céu e O labirinto dos espíritosDar um pulo depois a Madrid, partir do Urso da Puerta del Sol, passar pela Plaza Mayor, rever os gatos e gatas que a habitam e seguir os caminhos tortuosos da ciudad reina da Meseta Ibérica, trilhados pelos Sempere & C.ª. Ya veremos...

2 comentários:

  1. Uma viagem literária com o sabor mágico da criatividade de Zafón... Terei de ler este título para calcorrear de novo o Bairro Gótico, as Ramblas com as suas coloridas tiendas e admiráveis edifícios de Gaudí, o Parque Guell, revisitar a magnífica Catedral da Sagrada Família, fazer compras no Mercado... E esperar que este vírus nos deserte de vez, para mergulhar de novo no ambiente único da cidade! Ya veremos, Artur. Enquanto isso, ganharás a tua saúde de novo, enquanto nos vamos deliciando com estes belíssimos textos que partilhas connosco.

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  2. A cidade está muito bem retratada no guia e merece a pena uma leitura de descoberta ou de aviva-memória de quem já a conhece. A descrição pormenorizada dos locais visitados pela escrita de Zafón constituem uma motivação suplementar para a sua consulta. Espero que haja uma edição atualizada do texto, com a inclusão dos itinerários traçados nos restantes títulos da tetralogia..

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