1 de setembro de 2021

O ciclo lunar e o solar dos meses do ano

A primeira grande descoberta foi o tempo, a paisagem da experiência. Só assi-nalando a passagem de meses, semanas e anos, dias e horas, minutos e segun-dos, a humanidade se libertaria da monotonia cíclica da Natureza. O fluir de sombras, areia e água, e do próprio tempo, traduzido no staccato do relógio, tornou-se uma medida útil dos movimentos do homem ao longo do planeta. As descobertas do tempo e do espaço tornar-se-iam uma dimensão contínua. Co-munidades de tempo originariam as primeiras comunidades de conhecimento, vias de compartilhar a descoberta, uma fronteira comum para o desconhecido.
Daniel J. Boorstin, Os descobridores (1983)

TEMPO

O nono mês do ano comum foi o sétimo do mundo romano, daí o sentido de setembro, do latim septem- (sete). O mesmo se diga dos demais meses numerados ainda hoje existentes: outubro, novembro e dezembro, derivados de octo- (oito), nove- (nove) e decem- (10). A medição do tempo fazia-se desde 753 AEC com base no ciclo lunar, gerando uma mobilidade indesejada no cálculo das quatro estações. Numa Pompílio tentou resolver o problema em 713 AEC, inserindo dois meses extra aos dez considerados pelo calendário de Rómulo, para assim o ajustar ao ciclo solar. 

Os reajustes seguintes foram feitos por Sosígenes de Alexandria em 46 AEC, incluídos no calendário juliano, assim nomeado em honra de Júlio César. Era totalmente regido pelo ciclo solar, iniciado com a lua nova seguinte ao solstício de inverno, no começo de janeiro, baseado em Jano, o deus das mudanças, representado com duas faces, uma a olhar para o passado e outra para o futuro. É também introduzido o dia bissexto, de modo a compensar as 24 horas perdidas ao fim de 4 anos. Isto em fevereiro, inspirado em Fébruo, o deus da morte e da purificação do panteão etrusco.

Até à reforma cristã, promovida em 1582 EC pelo papa Gregório XIII, o chamado calendário gregoriano manteve-se intacto até à presente data, retendo os nomes fixados pela tradição romana. O mês de março dedicado a Marte ou Marcório, o deus da guerra e guardião da agricultura, deixou de abrir o ano, mas manteve-se ligado ao início da primavera. Esta estação desabrocharia depois em abril, cuja etimologia tanto poderá derivar do latim aprillis (do verbo aperire = abrir), como do etrusco apros (pelo grego αφρός), aproximando-o assim da deusa do amor Afrodite.

A Bona Dea Maia estará na origem do nome dado a maio, pela sua ligação à abundância, à fertilidade e à energia vital, necessárias ao renascimento sazonal da natureza. A grande mãe romana da terra e dos homens está associada a Juno, a mulher de Maio Júpiter, o pai dos céus e dos deuses. O casal olímpico estará por detrás da designação de junho, a antecipar a entrada do verão boreal, regidos por julho e agosto, as novas etiquetas escolhidas para os antigos quintilius (< quinque = cinco) e sextilius (< sex = seis), dedicados aos divinos césares Júlio & Augusto.

1 comentário:

  1. É sempre interessante, Prof , reler sobre as descobertas do tempo e a evolução da sua medição! Tanto mais que, desta vez, o ponto de partida da reflexão foi o meu mês de nascimento, o dourado mês de setembro...

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