1 de maio de 2022

Maio dos Maios e das Maias

Maia & Flora
em formato sorvete
Não hâ para que me detenha no modo de vestirse; vistase conforme sua idade, mudese com ella. Temse nisto respeito aos filhos, á saude, ao gosto, à presença, ou ausencia do marido, e tambem a idade delle. Se o ouvessemos de regular parece que atè os tres filhos, e atè os vinte e cinco annos se permite toda a gala. E ainda nesse mesmo tẽpo tenha suas crecentes, e minguantes; que nos mesmos altares de Deos se mudão as cores, e adornos, e vez em que se mostraõ tristes. Avorrecẽme hũas maias muito enfeitadas, sempre de bordados, e joias, que parecem Fama de procissão, ou Raìnha Moura de comedias. Seja mais confiada em sì a fermosura, se saõ fermosas; e mais reportada a fealdade, se saõ feas.
Dizem os mitos e lendas helénicas de tempos perdidos na memória das gentes ser Maia filha de Atlas e Plêione, amante de Zeus, mãe de Hermes e ama de Árcade após a morte de Calisto. Diz-se ainda, sem grande convicção, ter sido gerada por Estérope. E pouco mais se acrescenta ao perfil biográfico algo escasso da ninfa do monte Cilene, na Arcádia, uma das sete irmãs divinizadas e convertidas na constelação das  Plêiades.

Os mitos e lendas itálicas diluídas na espuma dos dias imaginaram outrossim uma divindade chamada Maia Maiestas. Associaram-na à fecundidade e energia vital, ao despertar da natureza na passagem do período das chuvas para o da calidez juvenil. Teria sido mentora de Vulcano, o deus do fogo, e genitora de Mercúrio, o arauto de Júpiter e servidor da deidade maior do panteão romano nas suas muitas aventuras amorosas.

Com a chegada do helenismo, os mitos e as lendas greco-latinas confundiram-se umas com as outras, e as Maias das duas culturas-civilizações mediterrânicas passaram a simbolizar com um único nome o renascer cíclico anual das flores, o despertar do primeiro verão a anunciar a vinda do estio pleno. A mãe de Hefesto-Mercúrio uniu-se à deusa Flora celebrada em abril e deu origem ao mês de maio que lhe foi consagrado.

Quem atravessa a EN 125 no concelho de Olhão pode observar os Maios e Maias de flores silvestres rejuvenescidas cada primavera. A lembrança distante do poder da deusa da terra e das plantas em crescimento continua viva nesta tradição popular de matriz rural. Ecos audíveis ainda hoje de numes sem idade registada nos anais históricos, com um sabor regional adaptado aos usos e costumes ainda em vigor nos nossos dias.

MAÏA ET MERCURE
Trésor de Berthouville, séc. Ⅱ EC
[Cabinet des médailles - BnF - Paris]

2 comentários:

  1. Costumes interessantes que vão beber bem longe a sua fonte...

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  2. E que as tradições multisseculares se mantenham «ad æternum», sinal de que continuamos vivos e com saúde...

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