11 de outubro de 2022

Igualdades desiguais

BALLET ROYAL DE LA NUIT - SÉC. XIII

 

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A rainha Margarida da Dinamarca acaba de anunciar o propósito de retirar os títulos reais de príncipe e princesa aos filhos do príncipe segundogénito Joaquim e de os manter para os do príncipe herdeiro Frederico. A medida parece seguir a mais recente tendência das monarquias europeias de reduzirem o número de membros oficiais das respetivas casas dinásticas. Sinais dos tempos em que se tentam amenizar algumas desigualdades sociais sem eliminar de raiz os princípios igualitários inquinados. A solução de nivelamento entre súbditos e soberanos talvez até pudesse passar pela elevação de toda a plebe pé-rapada à mui nobre categoria fidalga de príncipes e princesas, alimentando assim o ego ávido de sangue azulado que lhes passaria a correr nas veias.

O candidato a novo czar da Rússia acaba de anexar quatro regiões da Ucrânia, depois de ter falhado a conquista total do país e de ter encenado um referendo ilegal que desse cobertura legal à conquista parcial por si perpetrada. O direito a veto que o Kremlin detém como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU foi suficiente para fazer abortar a resolução de condenação da alegada consulta popular e subsequente apropriação de territórios alheios. Aqui como na Animal Farm de George Orwell, dá vontade de afirmar que todos os países representados nas Nações Unidas são iguais perante a lei, mas há alguns deles que são mais iguais do que os outros. Muito significativo para entender as igualdades desiguais que (des)governam o mundo.

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O Rei-Sol Luís XIV da França e Navarra julgava ocupar o centro do cosmos apolíneo. Se tivesse o conhecimento astronómico dos nossos dias mudaria rapidamente de opinião. Ficaria a saber que há mais estrelas no céu do que grãos de areia em todas as praias e desertos da terra. Dizem. Cálculos sábios de quem consegue contar até o número incontável que cabe no infinito. O mesmo se passaria com as pretensões de Filipe IV das Espanhas ou de Dom João V de Portugal e Algarves, apodados de Rei-Planeta e Rei-Constelação. Por este andar, até o super Putin de todas as Rússias almejaria um cognome astral à altura. Creio que lhe ficaria bem o de Imperador do Buraco Negro, na esperança, porém, de não nos arrastar para as mais profundas trevas do universo.

2 comentários:

  1. Magnífica alegoria.
    Já não tenho palavras para descrever a situação que se vive na Ucrânia.
    Apenas sei que chegam cada vez mais cidadãos ucranianos e suas viaturas automóveis à Região.
    Muito trabalho para o SEF e para a alfândega…

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  2. Histórias d'Arthur d'Algarbe18 de outubro de 2022 às 12:57

    Na alegoria bíblica de David & Golias, a funda frágil do pastor hebreu com pulso certeiro conseguiu levar de vencida a força bruta do gigante filisteu com pés de barro que se lhe opunha. Estou certo que a perseverança resistente ucraniana conseguirá eliminar as garras assassinas do invasor russo. Pode não ser imediato, mas mais tarde ou mais cedo acontecerá. E isto não é uma esperança, é uma certeza.

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