GAL COSTA - ÍNDIA 1973 |
Índia, teus cabelos nos ombros caídos | Negros como as noites, que não têm luar. | Teus lábios de rosa, para mim, sorrindo | E a doce meiguice desse teu olhar. || Índia, da pele morena | Tua boca pequena, eu quero beijar. | Índia, sangue Tupi, tens o cheiro da flor | Vem, que eu quero te dar todo meu grande amor. || Quando eu for embora, para bem distante | E chegar a hora de dizer-te adeus. | Fica nos meus braços só mais um instante | Deixa os meus lábios se unirem aos teus. || Índia, levarei saudade | Da felicidade que você me deu. | Índia, a tua imagem sempre comigo vai | Dentro do meu coração, todo meu Paraguai.José Asunción Flores, Manuel O. Guerrero, José Fortuna
Há vozes que quando as ouvimos uma e outra vez temos a sensação secreta de as conhecer desde sempre, escapando-nos a mais remota hipótese de identificar o momento exato em que o primeiro encontro se deu. Terei ouvido a voz bem timbrada de Gal Costa ainda na década de 60. Talvez na reta final, tal como terei ouvido outras vozes estreantes tropicalistas do MPB que por aqui iam surgindo a pouco e pouco, numa fuga constante aos cortes das censuras então vigentes nas duas margens atlânticas da lusofonia.
Ouvi muitas e variadas vezes a voz singular de Gal Costa na década de 60, ouvi-a muitas mais na de 70 e seguintes, estou a ouvi-la agora neste momento já entrados no primeiro quartel do terceiro milénio, poucos dias após se ter calado para sempre em termos físicos e de ter partido seguramente para outras esferas mais elevadas. Felizmente o vinil, os vídeos, a Net e os demais meios fónicos de registo da voz e imagem dos que partem por cá ficaram para os ouvirmos e vermos sempre que tivermos vontade de o fazer.
Guardo alguns álbuns da Gal Costa cá em casa que há muito deixei de ouvir à falta dum gira-discos compatível. Valha-nos o YouTube bem mais prático de manusear e a dispensar-nos também de recorrer às obsoletas cassetes magnéticas e aos compacto discos perdidos algures por aí. Uns e outros ouvem-se em qualquer altura e lugar sem grandes dificuldades, desde que se tenha acesso a um PC preparado para tal. As novas e velhas tecnologias vão e vêm umas atrás das outras, as vozes que queremos ouvir ficam.
A arte de Gal Costa recai no dom de tornar suas e só suas as letras e melodias compostas por outros. Falar de cada uma dessas criações cantadas seria uma tarefa hercúlea que não caberia nesta história. Trago aqui a memória distante aquela Índia que ouvi uma única vez em Badajoz numa rádio local raiana, numa madrugada estrelada de verão, num 3.º esq.º dum dado n.º da Plaza del Pilar, com o arco que lhe dá nome à vista. Os agudos finais do Paraguai continuam bem vivos na minha memória acústica. Até hoje, até sempre.
Uma belíssima voz, de timbre inimitável, que nos acompanhará sempre e uma maravilhosa intérprete de linda figura, de uma sensualidade inata, que recordaremos até ao fim dos nossos dias. E viva a Gal!
ResponderEliminarBelíssimo texto. Eu sei-a de cor e quantas vezes a " Índia " e outras me assaltam repentinamente, quando me dá vontade de trautear uma das muitas canções que guardo no meu álbum de memórias!
ResponderEliminarE pensar eu que tive um bilhete nas mãos para ir assistir a um concerto aqui no Teatro das Figuras e que depois a covid cancelou e adiou para uma data a designar tornada agora completamente impossível de concretizar...
Eliminar