Niketche. Dança do amor, do sol e da lua, dança do vento e da chuva, da criação... |
História exemplar
Era uma vez uma princesa. Nasceu da nobreza mas tinha o coração de pobre-za. Às mulheres sempre se impôs a obrigação de obedecer aos homens. É a natureza. Esta princesa desobedecia ao pai e ao marido e só fazia o que queria. Quando o marido repreendia ela respondia. Quando lhe espancava, retribuía. Quando cozinhava galinha, comia moelas e comia coxas, servia ao marido o que lhe apetecia. Quando a primeira filha fez um ano, o marido disse: vamos desmamar a menina, e fazer outro filho. Ela disse que não. Queria que a filha mamasse dois anos como os rapazes para que crescesse forte como ela. Recu-sava-se a servi-lo de joelhos e a aparar-lhe os pentelhos. O marido cansado da insubmissão, apelou à justiça do rei, pai dela. O rei, magoado, ordenou ao dragão para lhe dar um castigo. Num dia de trovão, o dragão levou-a para o céu e a estampou na lua, para dar um exemplo de castigo ao mundo inteiro. Quando a lua cresce e incha, há uma mulher que se vê no meio da lua, de trouxa à cabeça e bebé nas costas. É Vuyazi, a princesa insubmissa estampada na lua. É a Vuyazi, estátua de sal, petrificada no alto dos céus, num inferno de gelo. É por isso que as mulheres do mundo inteiro, uma vez por mês apodrecem o corpo em chagas e ficam impuras, choram lágrimas de sangue, castigadas pela insubmissão de Vuyazi.
Paulina Chiziane, Niketche - Uma história de poligamia (2002)
Nunca li nada da Pauline Chiziane, que nos últimos tempos segui em diversas entrevistas na TV. Um conto bem lembrado em tempos de corajosa insubmissão feminina à prepotência dos que detêm cegamente o poder. ..
ResponderEliminarRecomenda-se a leitura duma escrita com muitos sentidos.
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