27 de dezembro de 2021

Entre las barras de bares de Burgos y la Cartuja de Miraflores

GREGORIO REALES
La Cartuja de Miraflores
(2018)

Charlas, tapas, copas y tumba de Isabel de Portugal

Reparti o Natal de 73 e o Ano Novo de 74 entre as duas Estremaduras ibéricas e os antigos reinos de Castela-Leão. O caudilho ainda exercia as funções de tiranete-mor desde o El Pardo e o regime franquista vivia os derradeiros momentos ditatoriais à sombra duma monarquia sem coroa visível e há muito esperada pela Casa de Borbón. Colocado perante o dilema de ficar essa dezena de dias confinado a Badajoz ou rumar a Burgos, optei pela segunda hipótese. Decisão avisada, porque me permitiu conviver com uma família tradicional hispânica, melhorar o meu castelhano ainda incipiente e conhecer de muito perto o ambiente histórico-político que então se respirava nas vésperas da transição do regime autocrata para o democrata.

Aproveitei as manhãs passadas na antiga capital do Reino de Castela para traçar os meus percursos pedonais de exploração pelo centro da cidade e visitar com todo a minúcia a Catedral de Santa María, que não me cansei de admirar com os seus imponentes trinta metros de altura. A minha instrução medieval prosseguia à tarde, planificada pela matriarca de família e transmitida ao marido, para ser seguida à risca até à hora do jantar. A lista era enorme e deveria culminar ao serão com um muito pormenorizado relatório oral de todos os locais visitados. Respeitámos a ordem uma ou outra vez, mas a brevíssimo trecho decidimos ocupar o tempo com charlas, tapas y copas en los mesones, tabernas, cuevas, bodegones y bares del burgo.

Nas vésperas de Reis, fui inquirido sobre quem estava sepultado na Cartuja de Mirafloresque não tínhamos visitado ou consultado no folheto da oficina de turismo, confiantes que meia dúzia de balelas sobre a arte gótica bastasse. Passar das barras dos bares às tumbas da cartuxa foi um piscar de olhos e ainda nos permitiu ir a todos os locais sagrados ostracizados nos dias anteriores. Esqueci-me dos pormenores, mas lembro-me muito bem do para-arranca do carro e do entra-sai dos recintos vistoriados. No final do dia, para reparar o esforço despendido, ocupámos a terraza dum café vizinho, para tomar un trago em honra da Isabel de Portugal e de Juan II de Castilla, os pais de Isabel a Católica. Cá se fazem, cá se pagam...

Juan Ⅱ de Castilla ౼ Armas Reais  Isabel de Portugal

4 comentários:

  1. Magnífico texto!
    Tem ritmo e o relato convence e convida a seguir o mesmo caminho!
    Parabéns!

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    1. Passado quase 1/2 século, não voltei a fazer este percurso na sua integridade, mas já voltei a muitos desses locais em momentos distintos e com outros efeitos colaterais que talvez não mereçam uma história especial...

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  2. Belo texto com que nos levas a descobrir um pouco da alma espanhola, tão bem descrita na paixão com que se vive na terra irmã e vizinha. Afinal, não há nada como uma charla em torno de umas tapas e copas, que mais animadamente proporcionam uma troca feliz de ideias entre pessoas com o mesmo espírito cultural. Que venham mais viagens logo que possível!

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    1. Gostaria de retomar as minhas viagens preferidas de convívio com os amigos de longa data, de visitar novos espaços ou de voltar aos já conhecidos para os rever com outros olhos e vivências. Isso talvez venha a acontecer em breve... ou talvez não... quem sabe...

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