Luís de Camões: Olh'ó Camões (caricaturas) |
Os Lusíadas, a epopeia de Camões, o Homero ou o Virgílio português, talvez seja o poema menos politicamente correto de todos os tempos, e o autor é claramente culpado de todos os pecados de início apontados nas universidades e que agora são deplorados pelos meios de comunicação: orientalismo, racismo, sexismo, mercantilismo, imperialismo e todas as suas variações. No entanto, Camões é um grande poeta épico, cuja força criativa anima a tradição literária portuguesa que dele emana [...]
O sofrido Camões perdeu o pai num naufrágio em Goa, na Índia Portuguesa, perdeu o olho numa batalha em Ceuta. Poucos grandes poetas foram guer-reiros, quaisquer que sejam as razões. Camões teve pouca aceitação durante a vida, mas desde então tem sido o poeta nacional – curioso destino para um aventureiro renascentista, singular e corajoso.
Na nossa nova Era do Terror, Camões parecerá um sectário provocador, pois a sua visão de um mundo conquistado para o catolicismo português tem necessariamente os Muçulmanos como principais oponentes. E, no entanto, Camões, embora o seu tema seja o heroísmo português, nunca desdenha dos custos humanos seja em que circunstância for e as suas profundas ambiguidades refletem um génio tão compadecido como corajoso. A sua epopeia histórica não é uma obra datada, mas sim relevante, infelizmente demasiado relevante, no momento em que avançamos nesta era de guerras religiosas (por mais que dissimulemos chamando-lhe outra coisa).
Harold Bloom. Génio: os 100 autores mais criativos da história da literatura
Lisboa: Temas e debates/Círculo dos Leitores, 2014, pp 574, 575.
Um homem do seu tempo, um poeta intemporal...
ResponderEliminarMudam-se os tempos, mudam-se as visões, tem acontecido muito ultimamente.
ResponderEliminar