Don Carlos (1564) & Dom Sebastião (1565)
Alonso Sánchez Coello e Cristóvão de Morais
Os dois primos de Avis-Áustria parece que se olham sem nunca se terem olhado olhos nos olhos. Nem na vida real nem na versão pintada. O olhar do Príncipe Don Carlos das Astúrias foi captado pelo olhar de Alonso Sánchez Coelho em Madrid. O olhar d'el-Rei Dom Sebastião de Portugal foi captado por Cristóvão de Morais em Lisboa. Os retratos dos netos de Carlos V e de Dom João III estão dispostos para quem os quer olhar a uma distância ainda maior. O filho de Filipe II e de Maria Manuel na capital austríaca e o filho de Juana de Áustria e de Dom João Manuel na capital espanhola.
Colocados lado a lado na disposição virtual de circunstância, num face a face evitado pelo olhar dos dois pintores régios quinhentistas das coroas ibéricas, os dois retratos são o produto das alianças matrimoniais multigeracionais estabelecidas entre primos e primas direitos e por partida dupla. O resultado está à vista de quem quiser olhar com olhar de quem olha estes dois bisnetos de Dom Manuel I de Portugal e Algarves e de Maria de Aragão e Castela. Um olhar atento não deixa escapar alguns dos traços fisionómicos que os retratistas não deixaram de fixar com o seu olhar de artistas.
Don Carlos (1545-1568) morreu encarcerado nos seus aposentos pessoais do Real Alcázar de Madrid, por insanidade mental, traição e tentativa de parricídio. Tinha então 23 anos e não chegou a lançar um olhar soberano sobre os domínios do pai, os tais onde o sol nunca se punha. Dom Sebastião (1554-1578), altivo, mimado e louco como o primo, morreu aos 24 anos no campo de batalha de Alcácer-Quibir, longe de poder olhar para o seu almejado império de além-mar em África. Triste fim para os herdeiros de príncipes, reis e imperadores das estirpes dos Habsburgo hispânicos e dos Avis lusitanos.
O Príncipe das Astúrias e o Rei de Portugal mais do que se olharem como primos-irmãos, bem podiam olhar-se como meios-irmãos, já que detinham cerca de 50% de genes familiares em comum, fruto de fusões consanguíneas a perder de vista na árvore genealógica a que o seu olhar pudesse enxergar. Partiram os dois sem deixar descendência, assim como sucederia aos seus sobrinhos-netos, bisnetos, trinetos, tetranetos ou primos afastados de Carlos II de Espanha e Afonso VI de Portugal. Olhar distante duma parentalidade ancestral, há muito tempo malquista, malvista ou mal-olhada.
Que olhares, que vidas!
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