15 de agosto de 2023

Os encontros nas ruas de Cesariny

Mário Cesariny, Relógio - 1994

Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real 
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te perco

                       Mário Cesariny, Pena capital (1957)

3 comentários:

  1. Belíssimo poema! Um artista plástico e poético cujas obras se interligam intimamente, dos seus poemas surgindo as pinturas e, das suas pinturas, os seus poemas...

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  2. Ultimamente, por causa do centenário, tenho lido sobre Mário Cesariny, na Visão, na LER, no JL (em 2 números), tenho aprendido muito sobre o surrealismo e os nossos surrealistas. A referência ao título “Pena Capital” destaca-se…

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  3. Histórias d'Arthur d'Algarbe18 de agosto de 2023 às 06:03

    Felizmente que ainda se comemoram os centenários do nascimento e morte dos vultos eminentes da cultura. Assim, lá vamos testando duas vezes por centúria a real/virtual imortalidade dos aniversariantes, residentes famosos do Parnaso...

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