3 de agosto de 2023

As fronteiras ilimitadas do infinito

“A handful of sand contains about 10,000 grains, more than the number of stars we can see with the naked eye on a clear night. But the number of stars we can see is only the tiniest fraction of the number of stars that are. What we see at night is the merest smattering of the nearest stars. Meanwhile the Cosmos is rich beyond measure: the total number of stars in the universe is greater than all the grains of sand on all the beaches of the planet Earth. [...] The idea that God is an oversized white male with a flowing beard, who sits in the sky and tallies the fall of every sparrow is ludicrous. But if by 'God' one means the set of physical laws that govern the universe, then clearly there is such a God. This God is emo-tionally unsatisfying... it does not make much sense to pray to the law of gravity.
Carl Sagan, Cosmos (1980)
O FINITO ENTRE INFINITOS

Perguntemo-nos mentalmente qual será a língua que dispõe do maior número de palavras para se expressar. As respostas são variáveis e dependem em grande parte do conhecimento aparente que tenhamos de cada uma delas, sobretudo daquela que colocámos no topo das vencedoras. A solução final, todavia, pode ser uma: estão todas empatadas, porque constituem sistemas abertos à admissão de novos vocábulos. Basta começar a contar e ir à procura do último elemento impossível de achar. Por mais que se avance, sempre lugar para mais um. Tudo se passa em termos da dupla articulação teorizada por André Martinet, quando nos lembra que com um número limitado de fonemas podemos formar um número ilimitado de monemas. As fronteiras do infinito, como se vê, não andam muito longe do universo das palavras.

Neste jogo de palavras e números o infinito nunca se atinge. Está sempre para além das nossas possibilidades finitas de seres humanos de decifrar os confins do transcendente, habitantes temporários dum ponto minúsculo no todo cósmico que nos abriga e absorve na sua incomensurável grandeza. A acreditar em Carl Sagan, haverá mais estrelas no céu do que grãos de areia em todas as praias do mundo. Uma asserção difícil de aceitar mas que os malabarismos matemáticos lá vão confirmando. Segundo os cálculos já efetuados, parece que existirão cerca de 5 a 10 vezes mais astros de plasma com luz própria em todas as galáxias do universo visível do que partículas de rochas degradadas arrastadas para as costas marítimas da terra. Só falta mesmo calcular o que fica para além do universo invisível desconhecido.

O antes do Big Bang e o depois do Big Crunch continuam um mistério para todos nós. Vivemos entre dois infinitos de sentido diferente e com a mesma grandezaÉ que como sublinha António José Saraiva, «Por detrás de toda a origem há uma outra origem que falta conhecer. Depois do fim, mais outro fim». A impossibilidade de os explicar com dados reais leva-nos a recorrer aos mitos e a fazê-lo em termos imaginativos. Juntemos meia dúzia deles e entramos no campo sagrado das religiões. Saímos da objetividade da ciência e penetramos na subjetividade da metafísica. A ideia da presença eterna dum Deus senhor de todas as leis físicas que regem o Universo surge no horizonte. que, como realça Carl Sagam, faria pouco sentido prestar culto devoto às leis da gravidade. Seria no mínimo frustrante e seguramente inoperante.

1 comentário:

  1. Por coincidência, estou a ler "Quando o mundo estremeceu", de H. Rider Haggard", que desenvolve a teoria científica da descoberta de um mundo que existiu milénios antes da datação até então considerada certa da existência humana. Dois estudiosos a interpretar a evolução do universo, um padre que pretende impor a sua religião ao povo primitivo da região austral que encontraram após uma erupção vulcânica, uma situação que se repete ciclicamente no mundo em que vivemos... As estrelas no céu não conseguem iluminar as mentes de todos...

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