7 de outubro de 2014

Top ten das letras

GIUSEPPE ARCIMBOLDO, Il libraio | Il bibliotecario (1566)
[
Stoccolma, Skoklosters Slott, Styrelsen]
No passado mês de setembro, fui desafiado uma meia dúzia de vezes para compor a lista dos 10 livros que de alguma forma me tivessem sensibilizado e ficado comigo. A tarefa demoraria apenas alguns minutos a executar e dispensava que se pensasse demasiado no assunto. Para mais, não teriam de ser os livros certos ou grandes obras literárias, mas apenas aqueles que de algum modo me tivessem tocado duma forma particular. Deveria ainda nomear 10 amigos e enviar-lhes o repto.

De cada vez que respondi ao solicitado, lá fui dizendo que sentia muita dificuldade em organizar um top ten das minhas preferências literárias, porque estaria a ser injusto com todos os livros assim excluídos sem terem feito mal a ninguém. Como as férias do verão ainda estavam frescas na memória, pensei indicar um ou outro que tivesse viajado comigo para a terra do dolce far niente sazonal, mas acabei por abandonar a ideia. Limitei-me a indicar um ao acaso e poupei os amigos de tal castigo.

A corrente foi entretanto quebrada. A pesquisa virtual cessou sem deixar rasto atrás de si. É o que costuma acontecer aos sistemas piramidais de recolha de dados. Um dia destes volta ao ataque, como se nada tivesse acontecido. O processo passará então pelos mesmos passos perdidos. Mais uma vez ficará por explicar o porquê e o para quê de tal registo. Presumo que se destine a testar a cultura literária dos navegadores do livro das caras. Um modo suplementar de definição de perfil público.

A próxima vez serei mais radical e deixarei a lista em branco. Direi que os livros da minha vida são todos aqueles que já me passaram pelas mãos. Vieram ter comigo e eu abri-lhes os braços. Todos eles me alargaram os horizontes. Mesmo os que deixei a meio ou esqueci por completo. Revelaram-me que a leitura é uma longa caminhada sem fim à vista. Está sempre à nossa frente e nunca se deixa tocar. Cada livro uma aventura que não cabe nas margens estreitas dum qualquer rol quantificado de primazias pessoais.

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