5 de novembro de 2014

No princípio era a música...

Foto: Dan Kitwood/Reuters

TOCATA E FUGA | TOCCATA AND FUGUE

Como a própria definição o diz, o vazio é um lugar onde não existe nada mas no interior do qual se espera que venha a acontecer tudo. Não admira, pois, que o vazio, cansado da monotonia abissal de não possuir coisa alguma dentro de si, um dia tenha chamado o órgão. E o órgão veio, com seus quatro mil tubos de metal e as suas quatro fileiras de teclas, e ficou a dançar no vazio, oscilando de um lado para o outro...

As the definition itself states, the void is a place where nothing exists but inside of which everything can be expected to happen. It is not therefore surprising that the void, tired of the abyssal monotony of not possessing anything at all in itself, should one day have summoned the organ. And the organ came, with its four thousand metal tubes and its four rows of keys, and stayed dancing in the void, floating from one side to the other...

Lídia Jorge,  O organista |  The organist
Lisboa -  2014: 10-11 (edição bilingue)  

2 comentários:

  1. No princípio era o caos, era o vazio, era o mar primordial. Assim o afirmaram, com maior ou menor convicção, Hesíodo na «Teogonia» (grego), o autor desconhecido do «Génesis» (hebreu) e o não menos desconhecido divulgador das lendas de Gilgamesh (sumério).
    No princípio era a música. Assim o afirma, dum modo mais ou menos direto, Lídia Jorge n' «O organista»...
    Bem vistas as coisas, todos têm razão, os conceitos que envolvem as palavras selecionadas é que podem ter sofrido algumas alterações semânticas ao longo dos tempos...

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  2. Um órgão inspirador... Há música no caos, no vazio, na proximidade do mar, quem duvida? É só estar atento aos sons... Adorei a ideia, pelo que agradeço mais esta sugestão sobre Lídia Jorge, cuja inscrita é sempre assim, inspiradora e criativa,

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