L'Arche de Noé [Saint-Savin sur Gartempe - Abbaye St-Savin et St-Cyprien] |
EPÍGRAFE 1: Epopeia do Grande Sábio (c. 1800 AEC: III, i, 20-24)«Parede, escuta-me com atenção! | Cabana, nota todas as minhas palavras! | Separa-te da tua casa, constrói um barco! | Despreza os bens, conserva a tua vida!»
EPÍGRAFE 2: Grande Dilúvio da Bíblia (c. 800 AEC: Gn. 6, 14)
«Constrói uma arca de madeiras resinosas. Dividi-la-ás em compar-timentos e calafetá-las-ás com betume, por fora e por dentro.»
Li há dias, num testemunho tornado público na netosfera das reali-dades virtuais, ser o Gilgamesh um poema de autor desconhecido e inúmeras versões, que nos conta a lenda dum rei sumério semidivi-no e do seu encontro com o semi-humano Enkidu. Frisava-se aí, também, a referência a situações bíblicas concretas, como a cria-ção do mundo e o dilúvio universal. O confronto entre os dois relatos torna-se particularmente interessante e explosivo, dado que a epo-peia mesopotâmica primitiva foi composta cerca de mil anos antes da compilação hebraica do livro sagrado por excelência dos três mo-noteísmos de expressão planetária.
Quando a escrita cuneiforme começou a ser decifrada em cascata no início do séc. xix, depois de ter estado fechada sobre si mesma cerca de dois milénios, os seguidores das religiões abraâmicas en-traram literalmente em choque. Afinal a Torah do povo eleito não era a mais antiga coleção de ensinamentos divinos dados a revelar aos mortais. A arca de Noé havia sido precedida pela barca de Atra-hasis. Os versículos do Génesis hebraico resumiam-se a uma va-riante tardia dos versos do Supersábio sumério. O mais inquietante é que todos esses poemas estavam centrados numa imensidade de deuses e não dum só em particular.
Os paralelismos existentes nos textos cotejados não se confina aos episodios destacados. Muitos outros haveria a arrolar para testar a sua origem comum. As terras banhadas pelo Tigre e Eufrates. A in-venção da escrita permitiu que a memória coletiva guardada pelos povos dos dilúvios ocorridos no final da última glaciação, há dez mil anos, se convertesse num conjunto de mitos assírio-babilónicos e judaico-cristãos indeléveis. Depois o homem descobriu ter criado os deuses à sua imagem e semelhança. A dimensão religiosa dá lugar à literária. E o processo de humanização de Abraão, Noé, Atrahasis, Enkidu e Gilgamesh entrava em cena.
Quando a escrita cuneiforme começou a ser decifrada em cascata no início do séc. xix, depois de ter estado fechada sobre si mesma cerca de dois milénios, os seguidores das religiões abraâmicas en-traram literalmente em choque. Afinal a Torah do povo eleito não era a mais antiga coleção de ensinamentos divinos dados a revelar aos mortais. A arca de Noé havia sido precedida pela barca de Atra-hasis. Os versículos do Génesis hebraico resumiam-se a uma va-riante tardia dos versos do Supersábio sumério. O mais inquietante é que todos esses poemas estavam centrados numa imensidade de deuses e não dum só em particular.
Os paralelismos existentes nos textos cotejados não se confina aos episodios destacados. Muitos outros haveria a arrolar para testar a sua origem comum. As terras banhadas pelo Tigre e Eufrates. A in-venção da escrita permitiu que a memória coletiva guardada pelos povos dos dilúvios ocorridos no final da última glaciação, há dez mil anos, se convertesse num conjunto de mitos assírio-babilónicos e judaico-cristãos indeléveis. Depois o homem descobriu ter criado os deuses à sua imagem e semelhança. A dimensão religiosa dá lugar à literária. E o processo de humanização de Abraão, Noé, Atrahasis, Enkidu e Gilgamesh entrava em cena.