Como quem num dia de verão...
Como quem num dia de verão abre a porta de
casa
E espreita para o calor dos campos com a
cara toda,
Às vezes, de repente, bate-me a natureza
de chapa
Na cara dos meus sentidos,
E eu fico confuso, perturbado, querendo
perceber
Não sei bem como nem o quê...
Mas quem me mandou a mim querer perceber?
Quem me disse que havia que perceber?
Quando o verão me passa pela cara
A mão leve e quente da sua brisa,
Só tenho que sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir desagrado porque é quente,
E de qualquer maneira que eu o sinta,
Assim, porque assim o sinto, é que é meu
dever senti-lo...
Fernando Pessoa | Alberto de Caeiro, «O guardador de rebanhos» (1946)
"No entardecer dos dias de verão, às vezes,
ResponderEliminarainda que não haja brisa nenhuma, parece
que passa, um momento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
em todas as folhas das suas folhas
e os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
tiveram a ilusão do que lehs agradaria..."
Ah!, os sentidos, os doentes que veem e ouvem!
ResponderEliminarFôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
E nem repararmos para que há sentidos...