21 de junho de 2019

Verões em verso & tela

Sebastian Stoskopff, L'été ou Les cinq sens (1633)

        Como quem num dia de verão...


Como quem num dia de verão abre a porta de casa
E espreita para o calor dos campos com a cara toda,
Às vezes, de repente, bate-me a natureza de chapa
Na cara dos meus sentidos,
E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
Não sei bem como nem o quê...

Mas quem me mandou a mim querer perceber?
Quem me disse que havia que perceber?

Quando o verão me passa pela cara
A mão leve e quente da sua brisa,
Só tenho que sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir desagrado porque é quente,
E de qualquer maneira que eu o sinta,
Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo...
Fernando Pessoa | Alberto de Caeiro, «O guardador de rebanhos» (1946)

2 comentários:

  1. "No entardecer dos dias de verão, às vezes,
    ainda que não haja brisa nenhuma, parece
    que passa, um momento, uma leve brisa...
    Mas as árvores permanecem imóveis
    em todas as folhas das suas folhas
    e os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
    tiveram a ilusão do que lehs agradaria..."

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  2. Ah!, os sentidos, os doentes que veem e ouvem!
    Fôssemos nós como devíamos ser
    E não haveria em nós necessidade de ilusão...
    Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
    E nem repararmos para que há sentidos...

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