16 de junho de 2019

Odisseia a pé pela Dublin do Bloomsday

               A Guide Map of Joyce's Dublin               

Na pista de James Joyce & de Leopold Bloom
Andei anos a fio atrás duma velha edição do Ulisses de James Joyce. Lia uma ou outra página, pulava de capítulo em capítulo, tentava cap-tar a lógica interna escondida em cada uma das suas partes e punha de lado o livro à espera de melhores dias. O meu conhecimento superficial da Odisseia de Homero explicou sempre essa inabilidade de mergulhar em profundidade no romance considerado pelos críticos como o suprassumo da modernidade literária europeia. À distância cavada pelo tempo, posso considerar esse pega e larga sem chegar a bom porto como uma fase pretérita de não-leitura.

Um percurso académico feito de andanças pelos trilhos das letras levou-me amiúde a deter-me nas comissuras traçadas pelas matrizes culturais greco-romana e judaico-cristã. Os universos da epopeia em verso antiga abriram-me caminhos seguros para cruzar os universos modernos da epopeia em prosa, vulgarmente designada de conto, novela e romance. Ulisses entrecruzou-se facilmente com Leopold Bloom, o primeiro a navegar pelos trilhos marítimos do Mediterrâneo, o segundo a trilhar as ruas e ruelas da capital da Irlanda. Os dois caminharam lado a lado e a interleitura cumpriu-se.

Aterrei em Dublin em 2006 no rasto das rotas homéricas que o herói joyciano ali fizera a 16 de junho de 1904, o Bloomsday. As placas lite-rárias semeadas a cada passo facilitaram-me a tarefa. Afinal estava no país com a maior taxa de leitores do mundo e uma livraria a cada esquina, na cidade-berço de poetas, novelistas, dramaturgos e filóso-fos. Jonathan Swift, William Butler Yeats, Oscar Wilde, Bernard Shaw e Samuel Beckett são alguns deles. Visitei o autor do Gulliver's Travels na St Patrick's Cathedral e estive com todos eles na Libray of the Trinity College. Parnaso de criadores divinos descidos à terra.

No ano em que andei pela cidade de James Joyce na pista de Leopold Bloom, foi também o ano em que John Boyne a vestiu como O rapaz do pijama às riscas. Os ecos helénicos do Pacto dos Heróis e da Guerra de Troia calaram-se nessa temporada no coração do país gaélico para ouvir os ecos germânicos da Solução Final e do Holocausto. Um Bloomsday épico transformado num Doomsday trágico. O real e o imaginário de mãos dadas através da literatura para questionarem a insanidade humana de todos os tempos. Os míticos de antanho e os históricos da hodiernidade.

3 comentários:

  1. Depois de o ler a si, Artur, a Odisseia e Ulisses aguardam juntas a minha atenção...

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  2. Força! Apesar de mais antigas, as errâncias fabulosas da «Odisseia» helénica são bem mais fáceis de seguir do que as realistas do «Ulisses» irlandês...

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  3. Nunca li Ulisses de James JOyce mas, depojs deste texto que me recorda também a descoberta sempre adiada a Dublin, é uma leitura a perseguir.

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