DAMAS DE AZULΤοιχογραφία με γυναίκες στο Ανάκτορο της Κνωσού[Fresco do palácio de Knossos - Creta - Grécia (1700-1300 AEC)] |
Princesas, Infantas, Rainhas & Cortesãs...
Diz-se que a nobreza tinha o sangue azul porque não necessitava de se expor diariamente aos raios ultravioletas do Sol. Sobretudo as titulares de mais alto estatuto, que abrangia as princesas, infantas e rainhas nascidas em berço de ouro e lençóis de cetim, mas também as cortesãs deitadas nos leitos reais despidas das sedas e pedrarias que antes as cobriam. A pele dum branco imaculado dava a sensação das veias cerúleas serem percorridas por um líquido vital diferente do vermelho vivo da restante plebe. Tudo isto nos tempos áureos em que os banhos de mar e a obtenção dum bronzeado perfeito não estavam ainda na moda como acontece nos dias de hoje e o moreno efémero de verão é cobiçado por todos, pelos filhos de algo ou de quem quer que seja.
As cabeças coroadas ou a elas associadas também não terão fugido a esta regra nos 770 anos que a Monarquia Lusitana geriu os destinos dum Reino agora convertido em boa hora numa República. Entre 1140 e 1910, anos em que Dom Afonso Henriques se autointitula Rei dos Portugueses e Dom Manuel II foi destronado, sentaram-se junto do soberano 36 soberanas, se as contas me não falham, 33 rainhas estrangeiras provenientes duma dúzia de cortes europeias de aquém e além-Pirenéus, sobrando três únicas rainhas consorte nadas e criadas em território nacional, escassíssimo número para tão extensa lista de alianças matrimoniais de estado, que geraram tantos príncipes, infantes e reis, quase todos eles portugueses a meio gás.
Dona Leonor Teles de Menezes (c.1350-1386), a quem Fernão Lopes apelidou de Aleivosa na Crónica de El-Rei D. Fernando e na primeira parte da Crónica de El-Rei D. João I de Boa Memória, pelo seu comportamento leviano medido à luz dos padrões vigentes na época. Por motivos de ordem estritamente política, separou-se do primeiro marido de quem tinha um filho, para se matrimoniar em segredo com Dom Fernando. Quando enviuvou, foi governadora e regente do reino, em nome da filha menor, Dona Beatriz, casada com o rei Dom João I de Castela, e assumiu a sua ligação com o Conde Andeiro. Odiada por tudo e por todos, foi uma das principais causadoras da crise de 1383-85, que substituiria a dinastia de Borgonha pela de Avis.
Dona Isabel de Coimbra (1432-1455) é a menos conhecida das três rainhas mas simultaneamente aquela que mereceria ser designada de Desejada, pela paixão que despertou no consorte, o rei Dom Afonso V, seu primo direito, por serem ambos netos de Dom João I, o Mestre, de Avis e de Dona Filipa de Lencastre. Eram também filhos da Ínclita Geração, ele do rei Dom Duarte, o Eloquente, ela de Dom Pedro, o infante das Sete Partidas. A guerra fratricida instigada pelo duque de Bragança, levaria à morte do pai na batalha de Alfarrobeira, travada contra as forças reais. A sua fidelidade e amor ao marido permitiu-lhe reabilitar o bom nome do progenitor e a trasladação do seu corpo para o Mosteiro da Batalha, onde jaz na capela do fundador.
Dona Leonor de Lencastre (1458-1525), a Rainha Velha dos autos de Gil Vicente, mecenas e humanista, promotora do manuelino, fundadora da Misericórdia de Lisboa e do Hospital Termal das Caldas da Rainha, continua a ser a mais conhecida das três, merecendo o epíteto de Princesa Perfeitíssima. Prima e nora da anterior, a infanta casou-se com o futuro rei Dom João II, primo e neto como ela de Dom Duarte. A execução do irmão e do cunhado por motivos políticos, bem como a morte trágica do filho amarguraram-lhe o resto da vida, dificultando a relação com o marido. Dizem as más-línguas que o terá mandado envenenar. O Renascimento no seu melhor, a lembrar-nos por A+B que não há bela sem senão ou que no melhor pano cai a nódoa.
OLHARES DAS TRÊS RAINHAS A Aleivosa (Em frente) – A Desejada (Para baixo) –A Perfeitíssima (para cima) |
Ou seja, de sangue azul porque não apanhavam sol e nascidas entre sedas e cetim, as rainhas eram seres humanos com virtudes e defeitos como todos os outros, mas privilegiados pelo nascimento segundo as lei de antanho... Interessante resenha para o dia decretado como o das mulheres que tiveram de lutar corajosamente pelos seus direitos!
ResponderEliminarTrês rainhas, três mulheres, que, à sua maneira, marcaram o seu tempo e ainda hoje são lembradas. Não estava a pensar no dia da mulher quando compus esta história com histórias dentro, mas até se pode enquadrar no espírito da data que hoje se celebra.
EliminarA maioria, era apenas um pedaço de carne para reprodução e alianças... Era muito triste a vida dessas mulheres. Eu nunca quereria ser rainha. Claro, se tivesse nascido com esse destino! Mas é muito bom ser plebeia, e muito melhor se tivermos liberdade de escolha. Ainda bem que sou do século passado!
ResponderEliminarTambém prefiro ter o sangue bem vermelho da plebe que vai à praia e adora o bronzeado passageiro do verão a estar privado da liberdade de escolher e ser escolhido. Os privilégios reais muitas vezes eram um castigo para quem os recebia por nascimento, sobretudo para as consortes destinadas à reprodução e às alianças monárquicas. Uma realidade que em boa hora nos desfizemos mas que ainda persistem em muitis locais, apesar do azul dinástico ter vindo a ser substituído gradualmente pela aristocracia dos nossos dias.
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