20 de setembro de 2019

A rota das especiarias de Magalhães

Mapa-múndi de Domingos Teixeira (1573)
«Mas é também razão que, no Ponente, | Dum Lusitano um feito inda vejais, | Que, de seu Rei mostrando-se agravado, | Caminho há de fazer nunca cuidado. || [...] || Ao longo desta costa, que tereis, | Irá buscando a parte mais remota | O Magalhães, no feito, com verdade, | Português, porém não na lealdade. || Desque passar a via mais que meia | Que ao Antártico Polo vai da Linha, | Dhũa estatura quase | giganteia | Homens verá, da terra ali vizinha; | E mais avante o Estreito que se arreia | Co nome dele agora, o qual caminha | pera outro mar e terra que fica onde | Com suas frias asas o Austro a esconde.»
Luís de Camões, Os Lusíadas (Lx: 1572)
[Canto X, 138: 4-8, 140: 4-8, 141: 1-8]
De mar em mar à volta do mundo...

A 20 de setembro de 1519, faz hoje 500 anos, zarpava Fernão de Magalhães do porto andaluz de Sanlúcar de Barrameda no encalço duma rota comercial alternativa para as ilhas das especiarias. Longe estaria dos seus intentos dar a volta ao mundo. Rumou para Sul contornando o continente americano até encontrar uma passagem estreita entre o Atlântico e o Pacífico, passou pelas Marianas e sucumbiu numa escaramuça com os nativos das Filipinas. Tudo ocorreu a 27 de abril de 1521, 585 dias depois de ter iniciado a mais famosa das suas viagens.

A expedição prosseguiu sob a capitania de Sebastián Elcano, que remataria o périplo a 8 de setembro de 1522. As dificuldades sentidas no Estreito de Magalhães aconselhou o novo comando eleito pela tripulação a sulcar o Índico e a dobrar o continente africano pelo Cabo da Boa Esperança. A esfericidade da terra e a contiguidade dos mares ficavam assim comprovados. Os caminhos das Índias passaram a dispor desde então de dois percursos oceânicos possíveis. O Oriental e o Ocidental, a unir os dois hemisférios que o tratado de Tordesilhas dividira.

Tem-se debatido muito se esta viagem não seria exclusivamente es-panhola, dado ter sido patrocinada pela Coroa de Castela. Guerras de alecrim e manjerona incapazes de retirar ao navegador português o mérito de ter sido o primeiro a dar uma volta completa ao globo terrestre, muito embora o tenha feito em duas etapas distintas: uma ao serviço de D. Manuel I, outra de Carlos Quinto, com interface situada nas Ilhas Molucas ou das especiarias. Empresa ibérica bem sucedida diríamos hoje, para assinalar com propriedade o processo de globalização então iniciado.
  

Sem comentários:

Enviar um comentário