1 de dezembro de 2019

Autonomia & Reforma

            O Jet Set do Lau            

Cartas de alforria do primeiro de dezembro...
Há precisamente um ano fui passar o dia a Sevilha. Longe de mim estava a ideia de celebrar a data em que a Casa de Bragança pôs fim à mal-sucedida Monarquia Dual, que durante seis décadas unira os destinos dinásticos de Portugal e Castela. Também não foi para gozar o feriado, dado ter caído num sábado idêntico aos demais sábados do ano. Atravessei a fronteira para festejar o meu primeiro dia de liberdade, autonomia e independência, na pele de aposentado, jubilado ou reformado. Nunca percebi muito bem o que distingue cada um destes vocábulos, mas para o caso tanto faz.

Este ano dispenso-me de comemorar o meu primeiro de dezembro no outro lado da raia. A efeméride recai agora num domingo e iria encontrar todas as livrarias fechadas, já que o prazer de encontrar um comércio local verdadeiramente diferente aberto fora do país há muito se desvaneceu em toda a União Europeia, uma federação mais alargada e pacífica de viver de facto a desejada união ibérica. Prefiro fazê-lo em casa, na tranquilidade dum dia de aniversário muito especial, sem velas a soprar, sem parabéns a cantar, sem palmas a bater, sem prendas a abrir e sem palavras a agradecer.

À distância dos anos, muitos seriam os episódios dignos de registo escrito para memória futura. Fico-me com a lembrança dum projeto singular sintetizado na sigla GADES, i.e.Graças a Deus é Sexta. Realizava-se invariavelmente na cervejaria Palhacinho, destinava-se a celebrar o início do fim de semana e constituía o único momento autorizado para cortar na casaca dos colegas ausentes. Uma tarde fartámo-nos de dizer mal sempre dos mesmos e adiámos sine die as sessões académicas informais da saudável catarse grupal. Foi pena, porque o riso partilhado nunca fez mal a ninguém.

Num tempo em que a investigação se resume em grande parte à pro-dução a quilo, metro e litro de papers mal-alinhavados que todos se sentem obrigados a escrever e poucos se sentem motivados a ler, é bom virar-lhes as costas e dirigir o olhar para outros desafios mais in-teressantes de concretizar. Resolvi vir de vez em quando a este espa-ço de histórias e voltar-me para o dia-a-dia do Lau. Assumir o papel de avô em full time ou perto disso. Embarcar no jet set da imaginação e voar por aí fora. A viagem é de longo curso e já ruma a um destino que se perde para além na linha visível do horizonte.

2 comentários:

  1. Parabéns, mesmo que muito atrasados.
    Sente-se que está de bem com a sua vida.
    Continue a desfruta dela!
    Viva!

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  2. Esta celebração mostra bem o gosto que tiveste em ter chegado à reforma, após uma vida de trabalho desempenhado com saber e prazer. Que as lembranças do que te fez o homem que hoje és te dêem energias para prosseguires o bom rumo no bom caminho do lazer!

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