« Un jour, parlant à Florinde, appuyés tous deux sur une fenestre, lui tint tels propos : “ Madame, je vous prie me vouloir conseiller lequel vaut le mieux, ou parler ou mourir ? ” Florinde lui répondit promptement : « Je conseillerai tou-jours à mes amis de parler et non de mourir; car il y a peu de paroles qui ne se puissent amender, mais la vie perduë ne se peut recouvrer. — Vous me promettez doncques, dist Amadour, que non seulement vous ne serez marrie des propos que je vous veux dire, mais ny estonnée, jusqu'à ce qu'en entendiez la fin. ” Elle lui répondit : “ Dites ce qu'il vous plaira, car, si vous m'étonnez, nul autre m'assurera. ” »Marguerite de Navarre, L'Heptaméron des nouvelles (1559)[Premiere Journée, 10e nouvelle]
Num habitual zapping rápido de exploração, deparei-me com um título que me despertou desde logo a atenção. Tratava-se do Call me by your name (2017), uma película de Luca Guadagnino, numa adaptação do romance homónimo de André Aciman. Não resisti à sua visualização integral e não me arrependo de o ter feito. Os especialistas integram a obra no universo de inspiração gay, o que não foge em muito à realidade, mas que pessoalmente prefiro considerar como uma abordagem à iniciação sexual-amorosa dum adolescente de 17 anos de origem judaica.
Com ação centrada na Lombardia, província de Cremona no norte da Itália, corria o ano de 1983, a história é-nos transmitida com diálogos travados em inglês, francês e italiano, com o recurso pontual a outros idiomas. Será o caso da leitura dum breve extrato d'O Heptaméron de Margarida de Navarra, versão alemã parafraseada livremente para a língua inglesa predominante e ponto de partida de todo o argumento cinematográfico. Fixei a pergunta que uma das personagens da 10.ª novela da coletânea coloca e que no português das legendas corresponde a algo como: É melhor falar ou morrer?
Elio resolve falar e dizer a Oliver o que sentia e o caso entre os dois aconteceu. Passaram a assumir o nome um do outro, a demonstrar que enquanto a sua história durasse eram um e um só para o que desse e para o que viesse. Demonstra também que a lição colhida num roman courtois pode influenciar o desencadear duma paixão contada com as técnicas muito particulares emprestadas às fitas e às escritas a uma distância de quase cinco séculos de devir histórico e literário. Se a imortalidade duma obra tivesse de ser comprovada este seria sem dúvida um bom exemplo.
Que interessante história, realçada por um texto que convida à sua leitura.
ResponderEliminarGostei do texto, embora não conheça a obra. Deve ser muito bom.
ResponderEliminarMais uma boa sugestão de leitura.
ResponderEliminarBelo texto pedagógico, Prof.! Vi o filme por acaso num dos canais da TV Cabo e gostei imenso, tendo-o já revisto pois as repetições constantes dos programas não podem representar sempre um castigo... Além da bela fotografia do filme, o enredo com gente que cultiva a literatura torna-o mais sugestivo. A tranquilidade do ambiente de férias contrapõe-se à intensidade emocional da relação, oferecendo-nos um filme de bela intensidade dramática.
ResponderEliminarFoi esse ambiente de férias e de cultura que igualmente me cativou no filme. A literatura, a filosofia, a arte em geral, associadas à história em si, simples e cativante. Os cenários paradisíacos da Itália setentrional também não me deixaram indiferente, aumentando em mim a vontade de lá voltar um dia para rever aquelas paisagens únicas dum dos países que não me canso de admirar em toda a sua diversidade. As repetições da TV Cabo por vezes jogam a nosso favor e permitem-nos durante um período razoável voltar às películas que por qualquer motivo nos sensibilizaram. Esta é uma delas que me convidou a visionar duas vezes.
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