“Now I will tell you the answer to my question. It is this. The Party seeks power entirely for its own sake. We are not interested in the good of others; we are interested solely in power, pure power. What pure power means you will understand presently. We are different from the oligarchies of the past in that we know what we are doing. All the others, even those who resembled ourselves, were cowards and hypocrites. The German Nazis and the Russian Communists came very close to us in their methods, but they never had the courage to recognize their own motives. They pretended, perhaps they even believed, that they had seized power unwillingly and for a limited time, and that just around the corner there lay a paradise where human beings would be free and equal. We are not like that. We know that no one ever seizes power with the intention of relinquishing it. Power is not a means; it is an end. One does not establish a dictatorship in order to safeguard a revolution; one makes the revolution in order to establish the dictatorship. The object of persecution is persecution. The object of torture is torture. The object of power is power. Now you begin to understand me.”
George Orwell, Nineteen eighty-four (1949)
No início da década de oitenta, aquela que acolheu o ano apontado por George Orwell no Mil novecentos e oitenta e quatro (1949) para datar a mais negra tirania ditatorial que o mundo alguma vez vira, construíra e consentira, as vitrinas das livrarias encheram-se de novas edições, reedições e reimpressões efetuadas em todos os idiomas da cultura literária. Dava-se assim visibilidade ao universo autocrático dirigido pelo Partido do Grande Irmão, o líder real ou imaginário de rosto enorme e farto bigode preto, de beleza austera e olhar sobranceiro, representado nos telecrãs colocados no alto de cada esquina daquele estado despótico, controlado pela Polícia do Pensamento, regido pelo Ministério da Verdade e expresso em novilíngua, a destruidora de palavras inúteis da obsoleta velhilíngua.
O conceito preconizado por Platão na República (c. 379 AEC), dum mundo perfeito e possível a erigir num futuro próximo, ganhou um fôlego muito especial no século ⅩⅥ, quando Thomas Morus na Utopia (1516) o situa no seu tempo, muito embora deixasse pouco clara a sua localização exata. Depois dessa variante humanista, a nova série genérica não deixou de ser cultivada um pouco por todo o lado até chegar aos nossos dias com alguns ajustes de percurso. O caráter eutópico da primeira geração edénica ideal cede passo às atuais antecipações cronotópicas de sociedades globais, de fortíssimo sinal distópico, infalíveis, politicamente hierarquizadas e controladas com mão de ferro por uma pequena casta privilegiada. O totalitarismo imposto pela força repressiva do aparelho governativo e persuasiva do medo, do ódio e da dor ganha terreno sobre o cooperativismo igualitário e a predestinação substitui integralmente o que restava do moribundo livre-arbítrio individual.
Lidos os livros, aquele que esteve para se chamar O último homem na Europa, composto por Eric Blair, o nome de batismo de George Orwell, e a Teoria e prática do coletivismo oligárquico, atribuído ao fictício Emmanuel Goldstein, bem como o Apêndice: os princípios da novilíngua, elaborado pelo próprio romancista, fica-se de posse de todos os elementos necessários para inserir a obra no seio da sátira política, vestida com a roupagem dum aviso à navegação sobre os perigos reais dum regime totalitário erigido à escala mundial, à sombra ideológica do SOCING, o todo-poderoso Partido único da Oceânia, um dos três superestados em que o mundo à data estava dividido, em permanente e aleatória guerra ora com a Eurásia ora com a Lestásia. Por outras palavras, o conjunto de países que em tempos haviam pertencido ao espaço anglo-americano, a grande parte do continente euroasiático e às diversas parcelas geográficas do Extremo Oriente de influência sino-japonesa. Todos pretendiam conquistar sem grande sucesso o designado quadrilátero irregular, cujos vértices passavam por Tânger, Brazaville, Darwin e Hong-Kong, assim como da calote glaciar do Polo Norte.
Magnífico texto, Prof.! Ao reler a explicação, nua e crua, dos objetivos dos que pretendem assumir o poder total sobre a mente humana, descritos em "1984", um calafrio sobe de novo pela espinha, quando a gente se lembra do horror dos regimes similares que já existiram na história da humanidade. Ou seja, que é bem possível que se repitam no futuro, tanto mais quando vemos, diariamente, os discursos populistas a serem gritados em alto de bom som através da comunicação social Com o aval das autoridades...
ResponderEliminarOs candidatos a Grande Irmão andam por aí à luz do dia e são em número superior aos dedos duma mão. Estão espalhados por toda a parte à espera duma oportunidade. Dizem representar os bons cidadãos, a gente de bem, mas nós sabemos bem aquilo que todos eles pretendem. As distopias da ficção valem o que valem enquanto alertas dum futuro possível e cada vez mais perto de nós. Estejamos atentos ao nosso dia-a-dia, cheio de dificuldades e de mezinhas salvadoras. O BB está-nos a olhar a cada momento mas nós também temos possibilidade de o identificar, por muito disfarçado de menino do coro que tente aparentar. Só enganam quem quer ser enganado.
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