«Em 1297, findado o processo de Reconquista, D. Dinis, monarca e grande mecenas da literatura trovadoresca, adotou o português como língua do reino de Portugal, assim como seu avô Afonso X, o Sábio (1221-1284), monarca de Leão e Castela, anos antes fizera com o castelhano, ao mandar redigir na língua grandes obras históricas, astronómicas e legais. O caráter oficial possibilitou ao português seu desenvolvimento autónomo em relação ao galego, língua esta que, em virtude da expansão territorial portuguesa e da dominação castelhana, perdeu a importância literária de outrora.»
Dia Mundial da Língua Portuguesa
Fala-se há muito tempo na integração do Português no seio das línguas oficiais da ONU, dado ser a mais difundida no Hemisfério Sul e a terceira no Ocidental, para além de ser a sexta a nível global. A grande objeção situar-se-ia nas divergências escritas que separavam as normas escritas portuguesa e brasileira, problema resolvido com o Acordo Ortográfico de 1990, que agora o mundo lusófono interpreta à sua maneira, não afastando as habituais questiúnculas atávicas de lana-caprina que nos caraterizam. Como se as diferenças existentes entre o francês europeu e o canadiano, o inglês britânico e o ianque ou o castelhano peninsular e o hispano-americano tenham impedido a sua oficialização pelos estados-membros que o constituem
A iniciativa até é louvável mas algo difícil de concretizar como tem vindo a ser demonstrado. Nem a eleição de António Guterres como nono Secretário-geral da Organização das Nações Unidas em 2017 resolveu o impasse. Aliás, seria muito pouco espetável que fora do espaço da lusofonia as suas intervenções internacionais passassem a ser proferidas na língua materna no desempenho das suas funções. Fá-lo-ia tanto como grande parte dos deputados nacionais ao Parlamento Europeu o fazem no seio da União Europeia, muito embora o Português seja um dos seus idiomas oficiais, preferindo fazê-lo em Inglês, mesmo após a consecução do Brexit e da saída subsequente do Reino Unido da associação de países em 2020.
Polémicas à parte, celebra-se hoje nos nove países da CPLP, o Dia Mundial da Língua Portuguesa, instituída em 2019 pela Unesco. Data recente em comparação com a própria idade do idioma, difícil de achar, embora disponhamos de alguns dados para a sua identificação relativa. Sabe-se, por exemplo, cumprir-se agora o 725.º aniversário da sua adoção como língua oficial das chancelarias régias de Dom Dinis, ocorrida em 1297. Todavia, parece que desde 1255 Dom Afonso III já o fazia a par do Latim. Depois, consideremos ainda os documentos mais antigos redigidos em vernáculo, como a Notícia de Fiadores de 1175, lavrada no reinado de Dom Afonso Henriques. Mais ano menos ano, aqui ficam os meus votos de parabéns.
Belíssimo texto pedagógico, Prof., sobre a língua portuguesa, idade, aniversário e variações ortográficas incluídas. Fez-me lembrar Fernando, que reli recentemente, a defender:
ResponderEliminar"Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente. Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m'a do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha."
(Livro do Desassossego, por Bernardo Soares)
E como a língua portuguesa tem evoluído, principalmente com as reformas ortográficas do séc. XX! Mas, debates à parte, viva o Dia Mundial da Língua Portuguesa, a língua em que nos entendemos (ou não) no dia a dia.