The Cow-Pock—or—the Wonderful Effects of the New Inoculation ! [National Library of Medicine History of Medicine Collection (1802)] |
-se de pústulas provocadas na vaca (ou no vitelo) e que inoculadas no homem, produzem a imunidade à varíola; daí, por generalização, substância destinada a inoculação preven-tiva, por formação de anticorpos.
José Pedro Machado, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (1952)
No início do século passado, consta que um médico americano curava alguns dos seus enfermos dando-lhes a comer camembert, um queijo francês de pasta mole e casca aveludada, feito na Normandia com leite cru de vaca. A razão desse resultado devia-se ao Penicillium candidum, um bolor branco que a partir de então se acrescentou ao laticínio original, supostamente criado por Marie Harel por volta da década de 1790, nos tempos conturbados da Revolução Francesa. Essa inovação de fabrico coincide com a descoberta por Sir Alexander Fleming, em 1912, da penicilina no Penicillium notatum.
A 14 de maio de 1796, agora do outro lado do Canal da Mancha, o médico rural inglês Edward Jenner descobriu a primeira vacina capaz de vencer uma das infeções virais mais mortíferas à data. Após ter verificado que os ordenhadores que lidavam com a cowpox, a infeção viral causadora de pústulas na ubre das vacas, resistiam à varíola, inoculou uma criança com o pus dum animal contaminado, curando-o ao fim dalgum tempo. Apesar do sucesso então obtido, o resultado foi incapaz de evitar uma resistência generalizada na população e na imprensa coetâneas de desenvolver um plano geral de vacinação.
Então como agora, a oposição às inovações da ciência não se alterou assim tanto. Segue a visão negativista de encarar a realidade, numa tendência insana de recusar a todo o custo as ideias, propostas e solicitações que ameacem o seu ceticismo atávico. Felizmente nunca me identifiquei com essa postura extremada. Acabei de tomar a segunda dose da vacina contra o COVID-19 e as vacas em miniatura ainda não começaram a sair pelos poros mais recônditos do meu corpo. É que, neste megaprocesso de inoculação global, até apetece sorrir ao dizer: La vache qui rit c'est, de même, la vache qui guérit...
Parce que c'est meilleur de rire... |
Ainda bem que o texto fica disponível na net, Prof.! Pode ser que algum dos negacionistas, que se recusam a acreditar numa ideia tão simples, já comprovada historica e cientificamente, tire daqui algum ensinamento. É inconcebível como defendem a sua ignorância com recurso às ideias da "liberté et égalité", desprezando a terceira parte importante do lema que defende os direitos humanos, "fraternité"...
ResponderEliminarA igualdade e a liberdade só têm de facto existência real se contarem com a tão negligenciada fraternidade. Depois, num mundo organizado como o nosso, é sobejamente sabido que o nosso arbítrio individual fica sempre condicionado pelo bem-estar coletivo. A isto chama-se civilização que em nada põe em causa a cultura pessoal que a todos nos une...
EliminarMagnífico texto, eloquente também!
ResponderEliminarFelizmente existiram sempre pessoas muito à frente do seu tempo, tal como pessoas resistentes à mudança e à inovação.
A medo, experimentando, falhando, avançando, recuando, o homem conquista e inova, para bem de todos nós.
Também bem não podemos esquecer que grandes descobertas científicas e sobretudo médicas, acontecem em contexto de conflitos militares, infelizmente.
É isso mesmo. A curiosidade humana e a vontade científica de melhorar a nossa existência/sobrevivência têm feito a diferença, para o bem e para o mal. A perfeição não existe mas é sempre possível refazer os caminhos mais tortuosos. O problema reside no negacionismo congénito que por aí grassa. Como se costuma dizer e com total razão, a ignorância é muito atrevida...
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