Francisco d'Ollanda DIES UNUM De Aetatibus Mundi Imagines (1545) [Biblioteca Nacional de España, Madrid] |
❧ IN PRINCIPIO CREAVIT DEVS COELVM et terram. Terra autem Erat jnanis & Vacua, & Tenebrε erãt Super ƒaciem Abyssi: & spiritus dei Ferebatur Super Aquas. Dixi-tᶐ Devs: fiat lvx. & Facta Eſt Lvx. Et Vidit Devs lvcem Q esset Bona: & Diuisit lvcem ac Tenebris. Appellauitᶐ Lvcem Diem, & Te-nebras Noctem: Factuᶐ Eſt Vespere & Mane, dies vnvs. ❦
GÉNESIS (1, 1-5)
A visita às fontes que outrora me serviam de companhia quotidiana passou a ser efetuada em períodos cada vez mais espaçados, mas tendo sempre o condão de me avivar a memória para saberes imunes à voragem dos dias que fluem uns após outros e ao desgaste que lhes são inerentes. A menos que a intemporalidade das pequenas coisas que identificam as culturas e as diversificam umas das outras se manifeste de modo persistente em cada instante que passa. Em todos eles utilizamos palavras com sentidos próprios cujas origens por vezes obscuras ignoramos.
A páginas tantas do manual de Serafim da Silva Neto, História da língua portuguesa (1957), encontrei um marcador amarelecido pelos anos na sua reflexão magistral sobre as diversas raízes matriciais de indicar os sete dias da semana, segundo as mitologias meridionais greco-romana e judaico-cristã, entre outros empréstimos oriundos do panteão setentrional celto-germânico. Alguma razão haveria então para fixar uma tal marcação. Não será difícil ancorá-la no caráter enumerativo do sistema português face às opções mistas dos seus congéneres atualmente em vigor.
O mito bíblico da criação do mundo e o conceito latino de fērĭa (> feira: dia de festa, de mercado, de férias) andam intimamente ligados, primeiro para assinalar as festividades da Páscoa e Pentecostes, depois os dias laborais da semana. Domingo, segunda, terça, quarta, quinta, sexta-feiras e sábado, ou dias do Sol/Senhor, Lua, Marte/Tyr (Guerra), Mercúrio/Odin (Viagem), Júpiter/Thor (Trovão), Vénus/Fri-da (Amor) e Saturno/Sabat (Tempo/Lazer). Os sete planetas/deuses romano-nórdico-assírio-babilónicos a reforçar a divisa oficial da União Europeia, Unida na Diversidade.
«Mas, apesar dos esforços da Igreja, durante muito tempo, lado a lado com as crenças cristãs, subsistiram as práticas do paganis-mo. É muito eloquente, no que se refere à Galécia, o testemunho que nos deixou S. Martinho de Dume, no seu De correctione rusticorum. || Que loucura que um cristão deixe de guardar o domingo e guarde o dia de Jove, de Mercúrio, de Vénus, de Satur-no!» (RdJ: Presença/MEC, 1979, p. 325)
Boa tarde, Artur.
ResponderEliminarAinda ando meia baralhada com a última leitura que fiz: A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de Max Weber, pelo que fiquei meia confusa com o seu texto.
Já não chega falar das mitologias greco/romana e judaico/cristã, é preciso referir as demais bases religiosas do "ascetismo secular": o calvinismo, o pietismo, o metodismo, o movimento Batista. Todas com base cristã, mas, fortemente influenciadoras na organização da sociedade e do trabalho, na Europa e na América.
Enfim...
As matrizes da cultura europeia são, de facto, uma miscelânea intricada de contributos labirínticos que, à distância dos séculos/milénios, nos transformaram naquilo que hoje somos, muito embora, frequentemente, ignoremos as suas origens. Continuação de boas leituras e duma aprendizagem contínua.
ResponderEliminarMuito instrutivo estas referências às origens das matrizes da cultura europeia, Prof. É muito interessante como se casam as contribuições das práticas do paganismo com as da religião cristã, que herdámos como se fossem verdades absolutas nos nossos dias...
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