Accademia di Platone ad
Atene Mosaico da villa di T. Siminius Stephanus a Pompei (c. séc. Ⅰ) [MuseoNazionale Archeologico di Napoli] |
«A profissão de professor [...] compreende numerosas tipologias que vão desde a do pedagogo destruidor de espíritos à do Mestre carismático.»George Steiner, As lições dos mestres (2003)
1. Letras & Números
Soube há dias que o Prof. Dinis morrera, ao que me foi dado saber num acidente de viação, desconheço exatamente quando. Rondaria agora os noventa e picos. Durante muito tempo, tive vontade de rever o meu mestre-escola da Primária. Nunca calhou. Não voltei a saber nada dele. Nem sequer me lembro do apelido. Difícil de o encontrar na Net. Iniciou-me nas Letras e nos Números e demais artes do trívio e do quadrívio. Recordo-o vestido a rigor de príncipe de gales, sempre de gravata e sapatos superengraxados. Por alguma razão era conhecido por Manequim Inglês. Podia ser pior.
2. Língua & História
Há tempos, dizia eu a um amigo, num diário em rede que quando estava a ler pela enésima vez As lições dos mestres de George Steiner, me lembrara do Dr. Bento Monteiro, meu professor no Secundário de Língua e de História. Na altura perguntei-me porquê, depois percebi ter sido o meu primeiro mestre carismático, aquele que me iniciara no universo do canto lírico e da paideia grega e me motivara a escrever e a ler ainda mais. Através da blogosfera soube ter falecido em 2008. Mais um que não voltei a ver como desejava, o Aristóteles Bigodaça, como alguns lhe chamavam.
3. Filosofia & Dialética
E nada digo a propósito de epítetos, porque a partir do Médio os discípulos deixavam de alcunhar os mestres. Se o Prof. Barrilaro Ruas algum tivesse, seria com certeza o de Sofista Maiêutico, dado o modo como referia o método pedagógico de Sócrates, o grande mestre da Filosofia e da Dialética, nas aulas que eu frequentava no Instituto Comercial de Lisboa. Perdi-o de vista, apesar de tal como eu se ter mudado para a Faculdade de Letras. Vi-o algumas vezes na RTP, enquanto deputado do PPM, até que em 2003 os mass media anunciaram o seu passamento aos 82 anos de idade.
4. Filologia & Linguística
Encontrei o Prof. Lindley Cintra já no final de vida, aquele que foi o meu Mestre de Mestres na Universidade de Lisboa, onde me iniciou no seio da Filologia e da Linguística, o estudo da linguagem nas fontes históricas antigas dos textos literários e registos escritos das diversas variantes do português e das suas congéneres românicas. Com ele aprendi que sem um conhecimento mínimo do latim e do grego, dificilmente entenderia a génese, avanço e triunfo da realidade cultural portuguesa. É que quem descura as suas origens ancestrais, empenha seriamente a sua razão de existir e dos seus.
5. Literatura & Cultura
Nunca perdi de vista a Prof.ª Ana Hatherly desde que a vi pela primeira vez no Príncipe Real, numa dependência da Universidade Nova de Lisboa. Sobre a minha orientadora de Mestrado e Doutoramento em Literatura e Cultura já contei aqui algumas histórias que não vou repetir. Limito-me a reforçar a ideia de ser uma Mestre Prodigiosa de muitas artes e saberes, que me ajudou a olhar com olhos de ver para o Barroco. Convivemos como mestre e discípulo um quarto de século. E mais houvera se não tivesse entretanto partido para o Parnaso, o único lugar mítico que lhe pertence de direito*.
NOTAS
* No dia em que há seis anos Ana Hatherly partiu para junto de Apolo e das nove Musas, as entidades míticas inspiradoras da criação artística e científica.
Memórias importantes de quem estimulou a tua sede de conhecimento e te formou como pedagogo.
ResponderEliminarAdorei as histórias sobre os teus mestres carismáticos e parabéns pela forma como as relatas!
ResponderEliminarAh! E tantos outros mestres não académicos, que me tocaram pela bondade e verticalidade.
ResponderEliminarLindley Sintra tb foi meu mestre. E, se nos fez perceber que o latim é grego eram essenciais para entender a génese da nossa língua, agora estaria a falar para o boneco. Já ninguém quer aprender essas matérias. É muito difícil, dá muito trabalho
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