Procedia-se com toda a atividade aos preparativos do casamento contratado. José das Dornas não cabia em si de contente. A formatura de um dos seus fi-lhos, e a perspetiva do vantajoso casamento do outro eram para isso motivos de sobejo. Acrescentem agora que o ano tinha sido fértil, que o enxoframento das suas vinhas prometia excelentes resultados, e poderão julgar se tinha ou não ra-zão o robusto lavrador para andar satisfeito e para cantar, a miúdo, a sua cantiga favorita: Papagaio, pena verde, Não venhas ao meu jardim; Todas as penas aca-bam, Só as minhas não têm fim.
Benvenuto – Armonia – Veniate – Andiamo...
Regressei esta semana a um ensaio presencial do grupo coral a que pertenço e fui intempestivamente forçado a deixar por causas alheias ao meu desejo. Senti-me de novo em casa como se dela nunca tivesse saído. Imponderáveis que o tempo se encarregou de resolver. Ao longo destes 20 meses de ausência involuntária, fui-me lembrando de todos os momentos em que ocupei o meu lugar no naipe, segundo a minha tessitura natural de voz e juntá-la às demais ali reunidas, fazendo-as ouvir harmoniosamente como uma só.
A minha primeira experiência canora foi precoce e efémera. Teria eu os meus 7/8 anos e andava na 2.ª classe. Frequentava a Escola do Bairro da Ponte e o grupo coral infantil funcionava na da Polícia de Trânsito, na outra ponta da cidade. Após a audição, foi-me atribuída a voz de tenorino. Lembro-me de termos ensaiado o Papagaio, pena verde. E é tudo. Ao fim dum mês, tudo terminou abruptamente. Ao que parece, a animação dos coralistas seria excessiva para o gosto do maestro e não chegámos a atuar nenhuma vez.
Entre a instrução primária e os dias de hoje passaram muitos anos. Nem merece a pena contá-los. Aprendi alguns rudimentos de teoria musical no ciclo preparatório, mudou-me a voz no secundário, mas só voltei a integrar um grupo coral no universitário já como docente e a meio caminho entre os naipes de tenor e baixo. Mantive-me ali uma única temporada. Depois, voos mais altos levaram-me a optar por outras paragens mais promissoras. A aposentação então em curso ajudou-me também na decisão. Não me arrependi.
No Grupo Coral Ossónoba mantive-me no naipe dos tenores. Os cuidados anticovid ainda nos obrigam a ensaiar fora do nosso ambiente natural. A fase do zoom já lá vai, as viseiras já foram dispensadas, mas as máscaras continuam a ser obrigatórias até ao presente momento. Nada que nos impeça de cantar afinados e preparar afincadamente novos concertos. Venham eles rápidos e ligeiros, que o desejo de pisar um palco é deveras forte e imperativo. Godiam, fugace e rapido il gaudio del canto corale!...
allegro mà cantabile - spartito autografo di vivaldi |
Feliz regresso ao canto, senhor tenor, com a vontade e o gosto que deixas transparecer! Que a saúde te acompanhe sempre nas tuas andanças com o Grupo Coral Ossónoba!
ResponderEliminarMagnífica notícia!
ResponderEliminarGrande sinal de que a recuperação avança com toda a confiança!
Viva!