Baldassare Peruzzi - Apollo e le Muse (1514-23) [Galleria Palatina - Palazzo Pitt - Firenze] |
ταῦτ᾽ ἄρα Μοῦσαι ἄειδον, Ὀλύμπια δώματ᾽ ἔχουσαι,ἐννέα θυγατέρες μεγάλου Διὸς ἐκγεγαυῖαι,Κλειώ τ᾽ Εὐτέρπη τε Θάλειά τε Μελπομέενη τεΤερψιχόρη τ᾽ Ἐρατώ τε Πολύμνιά τ᾽ Οὐρανίη τε
Καλλιόπη θ᾽: ἣ δὲ προφερεστάτη ἐστὶν ἁπασέων.
Ainda hoje guardo esse 33 rotações por minuto, um LP vinil com qualidade hi-fi stereo garantida na capa, produzido nos estúdios da Musidisc, a documentar a simbiose perfeita criada pelo universo musical russo-soviético então no seu apogeu e que o salazarismo-caetanismo da época se limitava a tolerar. Há muito que o deixei de ouvir num gira-discos adequado que EUTERPE, a Musa da Música, se encarregou de substituir por outros meios mais apropriados de se fazer escutar. Nos dias que correm, a Net e o YouTube funcionam às mil maravilhas. Conquistas fulminantes de CLIO, a Musa da História.
Vemos, ouvimos e lemos, todos os dias e a toda a hora, nas televisões, nas rádios e nos jornais impressos ou divulgadas on-line pela Net as atualizações ao minuto da agressão russa à nação ucraniana. As sanções económicas do mundo ocidental à superpotência invasora não têm cessado de seguir as instruções possantes de CALÍOPE, a Musa da Epopeia. Ultimamente, a condenação internacional passou a virar-se para as sanções culturais, medidas que têm merecido a reprovação unânime de todas as companheiras de Apolo, expressa sobretudo de modo firme e relutante por ÉRATO, a Musa da Lírica.
A Filarmónica de Cardiff removeu peças de Tchaikovsky do seu reportório. TERPSÍCORE, a Musa da Dança, tremeu de espanto, temendo que depois da Abertura 1812, a censura se voltasse a breve trecho para O Quebra-Nozes, O Lago dos Cisnes ou A Bela Adormecida. Foi acompanhada neste movimento de indignação por POLÍMNIA, a Musa dos Hinos Sagrados, já que a purga começou a sentir-se noutros quadrantes geográficos situados nos dois lados da fronteira bélica instalada em terras europeias e nas restantes áreas da expressão artística e literária representativos de todo o mundo.
Com os fones postos, oiço os três andamentos do Concerto para piano e orquestra N.º 1 de Tchaikovsky ‒ Allegro ma no troppo, Andante semplice, Allegro con fuoco ‒ e pergunto a URÂNIA, a Musa da Astronomia-Astrologia, se esta Opus 23 em si bemol menor do grande criador russo do século ⅩⅨ se voltará a executar em todo o mundo livre de guerras e em paz. É que de todas as divindades veneradas no Mouseion, o Templo das Musas, parece ser a mais capaz para ler as mensagens emanadas dos astros e fazer descer a harmonia celestial sobre a terra. Continuo à espera duma resposta. Sentado.
Um texto inspirador, Prof.! Seria bom que os humanos apenas copiassem das musas o equilíbrio das suas ações... Mas o caos do mundo mitológico também se reflete na vida humana e cá estamos nós perante medidas incompreensíveis, que ignoram o que de melhor existe na humanidade...
ResponderEliminarAssim como os deuses imortais tomavam partido nas querelas dos mortais humanos, também estes em situação de conflito optam pela presença de umas divindades em detrimento de outras. Neste caso concreto, parece que a lira de Apolo está a ser levada de vencida pela lança de Ars. Aguardemos para ver qual será a posição de Zeus no meio de tudo isto...
ResponderEliminarAinda não compreendi o objetivo das sanções culturais sobre a Rússia, em meu juízo, deveria ser através das mesmas que se tentaria chegar ao coração da elite que controla aquele imenso país, ou será que as práticas culturais deixaram de ser veículo de entendimento universal?
ResponderEliminarOs deuses do Olimpo andam distraídos...