15 de junho de 2022

A paleta colorida duma contadora de histórias acontecidas e fantasiadas

CARTAZ ORIGINAL 
Galerias Trem e Arco - Faro
 

As duas galerias municipais de arte do centro histórico de Faro, Trem e Arte, abriram as suas portas entre janeiro e março de 1993. Apresentaram conjuntamente uma mostra de pintura e gravura de Paula Rego, uma contadora ímpar de histórias de heróis e heroínas vindos do mundo da infância e recebidos pelo crivo imaginativo dos adultos. A Galeria 111 de Lisboa deu uma ajuda com o espetacular acervo de obras do CAMB, Centro de Arte de Manuel de Brito.

Guardo a memória do evento mas não guardei nenhum catálogo da exposição. Conservo ainda hoje o desdobrável fornecido pelos curadores aos visitantes. Pendurei no meu gabinete de trabalho o cartaz concebido pelas Galerias Municipais de Arte envolvidas. Ali o mantive duas décadas e meia bem à frente do meu nariz para poder vê-lo sempre que me aprouvesse. Ali o deixei à vista de todos quando me retirei das minhas lides laborais em 2018. Ali estará ainda hoje.

O fascínio pela paleta colorida da fabulista do grotesco com imagens a múltiplas dimensões reais e imaginadas é antiga. Tê-la-ei visto com verdadeiros olhos de ver nas galerias de Lisboa e sobretudo na CAM da Gulbenkian. Corriam então os anos 70. Apercebi-me definitivamente da sua dimensão internacional em Londres, quando a vi exposta com grande destaque no restaurante da Ala Sainsbury da National Gallery, em meados da década de 90. Arrebatador.

Quando as palavras falham, o melhor é ficar calado. As paredes cá de casa estão vazias dos medos, terrores e fantasmas da criadora de histórias pintadas e esculpidas. Troquei-as pelas gravadas nos livros de arte que a revelam muito melhor do que as palavras que os tentam descrever. Dizem os mass media que a dama do império britânico nascida numa casa lusitana partiu aos 87 anos. Faltou-lhes dizer que já chegara ao Parnaso, a morada divina das Musas.    

Paula Rego, Lela a brincar com Gremlin, 1985
CAMB, Centro de Arte Manuel de Brito

3 comentários:

  1. Belo texto de louvor a uma pintora que tanto te agrada...

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  2. Eloquente e claro, como sempre. Espera-se que o cartaz se mantenha por lá a lembrar a grande pintora e o admirador.

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  3. Aprecio muito o trabalho de Paula Rego.
    Temas fraturantes, intensos, parecem muitas vezes saídos de pesadelos, representativos de vidas duras, difíceis.
    Parece mentira que tenha ainda assim merecido o reconhecimento de tantos.
    Ainda bem.

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