PENA DE PAVÃO [O olhar vigilante de Argos] |
«O atributo vulgar de Hera é o pavão cuja plumagem se dizia ser a imagem dos olhos de Argos, o "vigilante" que a deusa colocara junto de Io. As suas plantas eram o helicriso, a romãzeira, o lírio. | Em Roma foi identificada com Juno.»Pierre Grimal, Dicionário da mitologia grega e romana (Lx: Difel, 1992, 205a)
O quarto mês do calendário romano primitivo pré-juliano estava dedicado a Juno, a nem sempre bem-amada irmã e mulher de Júpiter. As aventuras extraconjugais continuadas do rei dos deuses e dos homens levaram-na a ser conhecida como a mais ciumenta, violenta e vingativa moradora celestial do Monte Olimpo. Por essa razão também, a majestosa e solene filha de Crono e Reia converteu-se na todo-poderosa protetora das casadas, símbolo mítico da fecundidade e patrona da fidelidade conjugal.
Para idear esses atributos divinos da Iuno Lucia, aquela que preside desde o Esquilino ao nascimento das crianças, passou a estar associada à fertilidade das bagas vermelhas da romãzeira, à pureza imaculada do lírio branco e à perenidade dourada do helicriso solar. A Iuno Moneta, aquela que a partir das alturas do Quirinal e do Capitólio nos adverte e faz lembrar dos perigos latentes, socorria-se ainda do olhar atento e penetrante de Argos-o-Vigilante, espelhado na plumagem luxuriante do pavão.
Nestes dias tão cheios de surtos pandémicos e conflitos bélicos, não seria pedir muito a Iuno Deæ Diæ Virtus o mediar junto das mais altas esferas celestiais o retorno da ordem aos seus domínios terrestres. Depois lembramo-nos ser a esposa do Senhor dos Raios e Trovões a mãe de Marte, Éris e Vulcano, os deuses da Guerra, Discórdia e Fogo e pensamos que o melhor é deixar deuses entretidos entre si e obrigar os homens a resolverem por si sós as suas querelas multisseculares. Sic fiat semper!
Ana Hatherly, Romã (1971); Sydenham Edwards, Iris florentina (1803); Antonio Šiber, Helichrysum italicum (2017) |
Prof, adoro os teus textos sobre mitologia grega! As paixões dos deuses confundem ainda mais os mortais, mas os homens mostram os mesmos desequilíbrios, à sua imagem e semelhança, e os céus que nos acudam... Mas agradeço a Juno o olhar vigilante de Argos na cauda do pavão, que o torna mais exótico!
ResponderEliminarNostalgia dos tempos em que os mitos, as lendas e as histórias faziam parte do meu dia a dia. Agora limito-me a lembrar algumas deles...
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