Jarra de terracota com um coro de andadores de palafitas |
As procissões e sacrifícios áticos feitos sobre os auspícios dionisíacos estavam marcados pelas deambulações dramáticas dos coreutas. Entravam e saíam na orquestra pelos dois PÁRODOS situados à direita e à esquerda da tribuna dos heróis. Pelo meio, circulam entre o público e os atores. Com a mediação incisiva do deus que nasceu duas vezes, trazem ao presente os factos gloriosos dum passado heroico e que se impunha eternizar.
Nas modernas PARADAS militares, os caminhantes armados não cantam, não dançam, não falam. Limitam-se a marchar em passo cadenciado, imponente, sincronizado. Junto ao palanque de honra profusamente engalanado, olham reverencialmente as autoridades destacadas para o evento e partem avenida fora como se nada fosse com eles, sempre em frente, impávidos e serenos, senhores do seu nariz e sem dizer água-vai.
cd cd
Entre o coro teatral que cantava o párodo de entrada dos dramas helenos e os desfilantes bélicos que marcham ao som das fanfarras nas paradas militares, 2500 anos de devir histórico separam o mundo local antigo do global moderno. O propósito cerimonial de render honras aos heróis registados na memória coletiva é comum às duas exibições. Falta saber se umas e outras se limitam a apaziguar o passado ou a comprometer o futuro.
Cortejo Dionisíaco - Vaso Grego [Stapleton Collection/Corbis] |
As idiossincrasias humanas a que o tempo não consegue suavizar desassossegos, já que o próprio render honras consegue revestir significados teatrais...
ResponderEliminarCom a diferença abissal das tragédias gregas terem a função de purificar todos aqueles que nela participavam, enquanto as atuais se limitam a envenenar-nos a todos. E assim vamos vivendo de parada em parada, com um párodo à entrada e nenhum êxodo à saída…
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