O MENINO JESUS CÁ DE CASA
Laranjas, searas, trono e menino
A vaca e o burro do presépio tradicional franciscano primam pela ausência nos evangelhos canónicos do Novo Testamento. Aliás, só dois deles referem a Natividade, sendo omitida pelos restantes: Marcos e João saltam do anúncio de João Batista para o batismo de Jesus; Mateus inclui a vinda duns magos vindos do Oriente guiados por uma estrela; Lucas alude ao convite feito por um anjo a um grupo de pastores para visitarem o menino, que encontram envolto em panos, deitado numa manjedoura junto a José e Maria.
O quadro natalício assim traçado daria poucos elementos cénicos para de recrear o nascimento do Menino em Belém de Nazaré. Limitar-se-ia ao pai-mãe-filho, um ou outro guardador de rebanhos indefinidos e a um número indeterminado de peregrinos orientais destituídos da categoria real. Seria sempre possível imaginar umas casas espalhadas aqui e além, considerar um rio a atravessar a paisagem local e os habitantes locais a desempenharem as suas tarefas quotidianas. A falta da vaca e do burro pouca falta faria.
Mais restritivo do que a visão bíblica deste episódio natalício é a seguida pelos fiéis algarvios. Aqui, nem o musgo do pinhal a revestir os campos, nem a areia da praia a traçar os caminhos, nem o castelo altaneiro a demarcar o horizonte, obrigatórios no presépio estremenho da minha infância marcam presença. A liturgia católica cumpre-se com umas laranjas e umas searas de trigo a cercarem o trono e a figura tutelar do Menino Jesus. É quanto basta para garantir o alimento espiritual para todo o ano. Pro que conta, tem avonde!
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