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Albrecht Dürer, Selbstbildnis mit Landschaft (1498) [Madrid, Museo Nacional del Prado] |
O autorretrato viajante...
Passei pelo Museu do Prado em 2016 e o meu olhar não se cruzou com o olhar de Albrech Dürer captado em formato de Autorretrato. Na altura, não me apercebi da ausência inexplicável dum olhar seu que já tinham olhado detidamente em visitas anteriores. Quando me apercebi da falta de atenção pessoal então cometida, atribui o facto a ter ocorrido durante uma passagem algo apressada pelas vastas e labirínticas salas da mais famosa coleção de obras de pintura de Madrid. É que a minha atenção nessa primavera já distante e o meu interesse imediato estavam decididamente voltados para a grande exposição ali organizada em honra de Hieronymus Bosch, por ocasião do quinto centenário da sua morte.
Socorri-me da Net para recordar o olhar penetrante do grande mestre renascentista, depois completado nos livros de pintura que o dão a conhecer e até na página oficial do Museu de Arte Antiga de Lisboa. Foi então aí que desvendei o enigma misterioso do seu sumiço madrileno, assinalado aquando da minha última passagem pela capital espanhola. Descobri nessa altura, que o olhar autofixado a óleo numa tela viajara do Passeo del Prado para a rua das Janelas Verdes. Deixara de olhar e ser olhado por quatro meses numa sala majestosa da pinacoteca criada pela rainha Isabel de Bragança por uma sala nobre de exposições temporárias do palácio mandado edificar por D. Francisco de Távora.
Olhados à distância com o olhar duma memória antiga, atualizados com os recursos impressos/virtuais postos à disposição de quem olha e é olhado, revejo o perfil autorretratado a meio corpo do gravurista, pintor, ilustrador, matemático e teórico de arte alemão. Os jogos de olhar de Dürer veem-me à mente como se os estivesse a olhar pela primeira vez. O ambiente cénico que então o envolvia evaporou-se. Supérfluo, inútil, dispensável. Reolho-o sentado de perfil junto a uma janela aberta para o exterior, de mãos cruzadas, em trajo de gala talhado de acordo com as estéticas do olhar da época. A sua, a nossa, a vindoura. Aquela que o olhar da arte fixa para ser olhado para todo o sempre.
A minha ideia de vida glamorosa: frequentar exposições e/ou museus um pouco por essa Europa fora… ir no encalço deste e daquele pintor/escultor, desta tela e daquela escultura… seria feliz para sempre!
ResponderEliminarFelicidade compreensível, mesmo quando essas viagens/visitas se restringem a um número limitado das nossas apetências...
EliminarUm amante das artes atento, a perseguir viagens de quadros para outras paragens... É dos privilégios que me seduzem, ter visitas programadas aos museus dos locais para onde viajo, tendo um bom guia a salientar o mais importante das coleções artísticas.
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