30 de junho de 2025

Modiano, notas dum acidente noturno na praça das Pirâmides junto à Concórdia

     
« Tard dans la nuit, à une date lointaine où j'étais sur le point d'atteindre l'âge de la majorité, je traversais la place des Pyramides vers la Concorde quand une voiture a surgi de l'ombre. J'ai d'abord cru qu'elle m'avait frôlé, puis j'ai éprouvé une douleur vive de la cheville au genou. J'étais tombé sur le trottoir. Mais j'ai réussi à me relever. La voiture avait fait une embardée et elle avait buté contre l'une des arcades de la place dans un bruit de verre brisé. La portière s'est ouverte et une femme est sortie en titubant. »
Patrick Modiano, Accident nocturne (2003)

De quando em vez, apetece-me a companhia dum livro com poucas páginas e muitas ideias. Virei-me para a estante que fica em frente do meu sofá privado e peguei na compilação de dez romances de Patrick Modiano, organizada pela Quarto Gallimard e que estava ali mesmo a olhar para mim com ar irresistível. Movido por um impulso indeclinável ou difícil de contrariar, a minha visita recaiu sobre um Accident nocturne (2003), protagonizado pelo sujeito de enunciação interna (quiçá externa), numa noite de inverno, na parisina praça das Pirâmides, junto à Concórdia, nas vésperas de atingir a maioridade, ou seja, os 21 anos de idade, limite vigente em França até julho de 1974. Fixado o espaço central da ação e um tempo aproximado da mesma, os pormenores da efabulação podem começar a ser revelados passo a passo.

O mestre do conto longo com a densidade aparente dum romance curto, centra-se neste caso num episódio banal que ocupará, como é hábito, menos duma centena de páginas. Do embate, resultou o internamento do jovem acidentado no Hôtel-Dieu, logo transferido para a sofisticada Clinique Mirabeau. Ao acordar, apercebeu-se dos ferimentos ligeiros e de ter perdido um dos mocassins usados que então levava, pretexto ideal para levar o leitor a associá-lo à velha história da Gata Borralheira, exercício a breve trecho abandonado, quando o sapato extraviado acaba por ser recuperado e reutilizado, sem a aparição de nenhuma princesa no horizonte. Não obstante, esse desvio dos trilhos traçados pelo maravilhoso tradicional, povoado de fadas madrinhas e varinhas de condão, não impediu o paciente, já de posse da alta hospitalar, de partir em busca da causadora do acidente, entretanto desaparecida de cena.

Por efeito do embate sofrido ou do odor do éter então administrado e anestesia sequente, o relator sem nome próprio e apelido revelado, residência fixa, profissão certa ou meio de subsistência definido, sente esse atropelamento com um Fiat verde-água como um dos mais significativos eventos da sua vida, definidor dum antes/depois cronológico que o leva a virar-se pela primeira vez para o passado e a vê-lo como se duma radiografia se tratasse. Enceta então uma lídima viagem pelas memórias difusas, trazidas ou transformadas em sonhos/miragens de épocas antigas há muito adormecidas ou semiesquecidas. A sensação do já visto, sentido ou experimentado instala-se a cada momento, ao ritmo dum incessante e repetido eterno retorno. A situação algo similar dum antigo atropelamento sofrido na tenra idade desencadeia uma labiríntica cadeia de reminiscências mais ou menos fragmentárias e assíncronas, próprias dum relato memorialista entregue à pena mais ou menos fantasista de quem o acolheu entre si.

Uma trintena de anos após o acidente noturno por si sofrido, o relator sem nome resolve atualizá-lo sem nos dizer exatamente o porquê de tal pulsão. É bem verdade que também não tinha de o fazer. Um dos principais objetivos da ficção é contar histórias imaginadas como se fossem reais. Nesta perspetiva, parece que a tarefa foi cumprida, ainda que duma forma lacunar. A misteriosa condutora causadora do atropelamento é encontrada, enceta um diálogo esclarecedor de alguns pormenores mínimos e tudo fica por aí. A pesquisa chegara ao fim e é tudo. Goste-se ou não do resultado obtido. Tanto um como outro desaparecem das páginas do romance curto ou conto longo sem dizer até à próxima. Para além de ter falado q.b. do pai ausente e referido de passagem a mãe incógnita, Modiano deixa de parte as alusões ao contexto bélico novecentista omnipresente nos textos compostos em datas anteriores. Omissão tanto mais sentida, se cometida num tempo como o nosso, em que recordar os conflitos travados possa ser encarado como um alerta a ter em linha de conta. Quando mais não seja para evitar erros já cometidos e constantemente repetidos, a dar jus ao tal eterno retorno já apontado. Ideias quiméricas que a práxis quotidiana se encarrega de refutar ou reduzir ao mais completo absurdo.

24 de junho de 2025

A saltar a fogueira na noite de São João

Portinari, Festa de São João (1958)
MARCHA POPULAR
«Santo António já se acabou | O São Pedro está-se acabar | São João, São João | Dá cá um balão | Para eu brincar...»
António Lopes Ribeiro & Frederico de Freitas, São João Bonito (1942)
FESTAS DO LUME NOVO 

Os santos da minha infância pré-escolar eram passados na casa dos meus avós maternos, berço desse ramo familiar, da qual, por razões da ananke grega, do fatum latino ou do destino lusitano escapei, nem por bem nem por mal, mas pelas necessidades inevitáveis da vida referidas nos mitos épicos e dramáticos. Que me recorde, os três heróis elevados aos altares dos bem-aventurados celestiais, por vontade popular e reconhecimento clerical, nunca foram festejados com o mesmo brilho no espaço urbano da cidade da rainha onde cresci do que com o cenário quase aldeão da vila nativa dos meus avoengos. Faltava-lhe os balões aquecidos, os festões coloridos, as alcachofras acabadas de colher ou os cravos de papel com quadras em redondilha maior ou menor espetados num vaso de manjerico.

As festas do fogo da minha meninice celebravam-se na noite de São João, um pouco depois do solstício do verão, mas a abranger todo esse período de despedida do inverno e da permuta do reino da sombra para o da luz. Tudo começava nas vésperas desse ponto de viragem, com uma ida ao Pinhal Grande para juntar uns quantos ramos de alecrim e alfazema, apanhar algumas pinhas e troncos secos, mais umas braçadas de caruma para alimentar o lume novo que daria as boas-vindas à nova estação há muito desejada que aí vinha com toda a força renovadora. O arraial de rua far-se-ia, depois, com o contributo de toda a vizinhança reunida à volta das chamas perfumadas duma enorme fogueira, pronta a ser saltada pelos mais afoitos ao som dos cantos alusivos e do ritmo das danças rituais.

O odor a madeira queimada ainda mora na minha memória. O cheiro a cinzas fumegantes no empedrado da rua estreita que então me parecia imensa ainda persiste no meu olhar remoto dessa viragem simbólica da idade pueril para a juvenil. Aromas rurais imolados na fogueira mesclados com os urbanos do café torrado da mercearia do Swing e dos perfumes da barbearia do Fala-Barato. Sinestesias variadas a alimentar as vivências um dia vividas e vivificadas nos ainda por viver. A alcachofra silvestre que queimei na noite de São João floresceu na manhã do dia seguinte. Tive sempre sucesso nesse renascer cíclico da natureza. Os amores idílicos com a minha prima Vera duraram até se diluírem no ar. Rondávamos a meia dúzia de anos e estas memórias excederam as seis décadas bem contadas.

19 de junho de 2025

Férias pequenas, grandes e plenas

Bonnevacance!
férias
Nome feminino plural de féria (fé.ri.a | ˈfɛrjɐ), do latim ferĭa-, «dia de festa».

Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa

A capacidade de olhar à distância levam-me a vislumbrar um tempo idílico de infância, em que as férias não eram nem pequenas nem grandes, eram plenas. Começavam quando o solstício de verão se aproximava e os dias se tornavam maiores e mais quentes. Acabavam nas vésperas do equinócio do outono, quando as vindimas estavam no seu auge e as festividades das estações frias despontavam.

Em sentido contrário, dirijo o olhar para as férias que aí vêm e que voltarão a ter a dimensão dos dias de festa dos tempos pré-escolares. Estas agora só não são plenas porque entre os primeiros dias do inverno e os finais da primavera outras tarefas se foram impondo para preencher os longos dias duma reforma, aposentação ou jubilação obtida após a travessia da etapa ativa adulta pela vida.

Nas vésperas dos dias de festa do descanso maior, interrompi as caminhadas de domingo mas mantive as sessões bissemanais de yoga, abrandei os ensaios dos grupos corais e ultimei as aulas pro bono na academia sénior. Comecei a contar os dias que me separam do sol e sombra, das leituras e escritas, da companhia mais assídua dos livros de proveito e deleite, de ensino e diversão.

arrumei as calças, camisolas e casacos; estreei as t-shirts, bermudas e havaianas; já apartei as toalhas de praia, os fatos de banho e a cadeira de lona. Os chapéus de sol, os para-ventos de prevenção e os panamás de pano já foram postos de lado. Os giros à beira-mar, à beira-ria e à beira-dunas já se avistam no horizonte. E aí vou eu em pensamento ávido de lá chegar de corpo e alma.

13 de junho de 2025

Nasci exatamente no teu dia...

SOUVENIRS DE LISBOA
«Santo António & Fernando Pessoa»

SANTO ANTÓNIO 

Nasci exatamente no teu dia —
Treze de junho, quente de alegria,
Onde até esses cravos de papel
Que têm uma bandeira em pé quebrado
Sabem rir...
Santo dia profano
Cuja luz sabe a mel
Sobre o chão de bom vinho derramado!
 
Santo António, és portanto
O meu santo,
Se bem que nunca me pegasses
Teu franciscano sentir,
Católico, apostólico e romano. 
 
(Refleti.
Os cravos de papel creio que são
Mais propriamente, aqui,
Do dia de S. João...
Mas não vou escangalhar o que escrevi.
Que tem um poeta com a precisão?)

Adiante ... Ia eu dizendo, Santo António,
Que tu és o meu santo sem o ser.
Por isso o és a valer,
Que é essa a santidade boa,
A que fugiu deveras ao demónio.
És o santo das raparigas,
És o santo de Lisboa,
És o santo do povo.
Tens uma auréola de cantigas,
E então
Quanto ao teu coração —
Está sempre aberto lá o vinho novo.

Dizem que foste um pregador insigne,
Um austero, mas de alma ardente e ansiosa,
Etcetera...
Mas qual de nós vai tomar isso à letra?
Que de hoje em diante quem o diz se digne
Deixar de dizer isso ou qualquer outra coisa.
Qual santo! Olham a árvore a olho nu
E não a veem, de olhar só os ramos.
Chama-se a isto ser doutor
Ou investigador.

Qual Santo António! Tu és tu.
Tu és tu como nós te figuramos.

Valem mais que os sermões que deveras pregaste
As bilhas que talvez não concertaste.
Mais que a tua longínqua santidade
Que até já o Diabo perdoou,
Mais que o que houvesse, se houve, de verdade
No que — aos peixes ou não — a tua voz pregou,
Vale este sol das gerações antigas
Que acorda em nós ainda as semelhanças
Com quando a vida era só vida e instinto,
As cantigas,
Os rapazes e as raparigas,
As danças
E o vinho tinto.

Nós somos todos quem nos faz a história.
Nós somos todos quem nos quer o povo.
O verdadeiro título de glória,
Que nada em nossa vida dá ou traz
É haver sido tais quando aqui andámos,
Bons, justos, naturais em singeleza, 
Que os descendentes dos que nós amámos
Nos promovem a outros, como faz
Com a imaginação que há na certeza,
O amante a quem ama,
E o faz um velho amante sempre novo.
Assim o povo fez contigo
Nunca foi teu devoto: é teu amigo,
Ó eterno rapaz.

(Qual santo nem santeza!
Deita-te noutra cama!)
Santos, bem santos, nunca têm beleza.
Deus fez de ti um santo ou foi o Papa? ...
Tira lá essa capa!
Deus fez-te santo! O Diabo, que é mais rico
Em fantasia, promoveu-te a manjerico.

És o que és para nós. O que tu foste
Em tua vida real, por mal ou bem,
Que coisas, ou não coisas se te devem
Com isso a estéril multidão arraste
Na nora de uns burros que puxam, quando escrevem,
Essa prolixa nulidade, a que se chama história,
Que foste tu, ou foi alguém,
Só Deus o sabe, e mais ninguém.

És pois quem nós queremos, és tal qual
O teu retrato, como está aqui,
Neste bilhete postal.
E parece-me até que já te vi.

És este, e este és tu, e o povo é teu —
O povo que não sabe onde é o céu,
E nesta hora em que vai alta a lua
Num plácido e legítimo recorte,
Atira risos naturais à morte,
E cheio de um prazer que mal é seu,
Em canteiros que andam enche a rua.
Sê sempre assim, nosso pagão encanto,

Sê sempre assim!
Deixa lá Roma entregue à intriga e ao latim,
Esquece a doutrina e os sermões.
De mal, nem tu nem nós merecíamos tanto.
Foste Fernando de Bulhões,
Foste Frei António —
Isso sim.
Porque demónio
É que foram pregar contigo em santo?

Fernando Pessoa: Santo António, São João, São Pedro
Fernando Pessoa. (Organização de Alfredo Margarido.) Lisboa: A Regra do Jogo, 1986.

10 de junho de 2025

Isabel Rio Novo, fortuna, caso, tempo e sorte no quinto centenário de Camões

«Luís de Camões nasceu décadas antes de os registos paroquiais, averbando os batismos, os casamentos e os óbitos, se tornaram habituais, logo a seguir ao Concílio de Trento [...] Se dependêssemos das palavras do Poeta, ainda hoje não saberíamos quando ou onde nasceu.»
Isabel Rio Novo, Fortuna, caso, tempo e sorte (2024)

Se o vulto maior das letras portuguesas, que hoje se celebra com um feriado nacional, faleceu neste mesmo dia de 1579/80 do calendário juliano então vigente, ou a 20 de junho do calendário gregoriano atual, faria por estas datas 445/6 anos de idade. Número pouco redondo para assinalar, segundo os padrões usuais nestas ocasiões, a morte de alguém, máxime se se refere a Luís Vaz de Camões, nascido em 1524/5, i.e., há cerca de meio milénio completo ou a completar. No que ao poeta lírico, épico e dramático cabe, a incerteza de destacar uma efeméride precisa do seu percurso pela vida é uma tarefa difícil de fixar, cada vez mais votada ao fracasso. Tudo se resume, pois, a meras suposições, conjeturas, suspeitas, deduções, pressupostos nunca comprovados na sua plenitude.

As dificuldades de trazer à luz do dia os momentos mais obscuros do percurso existencial do nosso Príncipe dos Poetas têm sido incapazes de travar o esforço hercúleo de alguns investigadores de ultrapassar essa lacuna multissecular, de resgatar das trevas mais profundas esses segredos há muito perseguidos e nunca revelados. Isabel Rio Novo encontra-se arrolada nessa longa lista, sobretudo através da monumental Fortuna, caso, tempo e sorte Biografia de Luís Vaz de Camões (2024). Lidas as setecentas e tantas páginas do livro, fica-se com a sensação da pertinência de anteceder muitas das afirmações proferidas com um asterisco (*), entendidas como meras hipóteses, bebidas no vasto acervo de fontes documentais consultadas, resultando numa acabada reconstituição do contexto histórico-cultural contemporâneo do biografado.

Guardadas as devidas distâncias, a sina de Camões parece seguir de muito perto a obtida por Homero. Para além do nome, e da cegueira parcelar ou total dos dois, pouco se sabe a seu respeito, salvo a circunstância de ambos ocuparem um lugar cimeiro no panorama literário dos povos que os consideram como seus. Os gregos para o alegado aedo dos Aqueus na Ilíada e na Odisseia, e os portugueses para o legítimo arauto dos barões assinalados cantados n'Os Lusíadas. Só que, na dupla epopeia helénica, os heróis lendários são tidos como históricos, e, no poema épico lusitano, os heróis históricos se converteram em lendas vivas na memória das gentes. Até hoje.

No ano em que mal se lembrou o quinto centenário do nascimento daquele a quem chamaram Trinca-Fortes, autor confessado dos erros meus, má fortuna e amor ardente, quiçá se evoque na alegada data da morte a efeméride, mais por dever que por prazer. É que ao vir ao mundo ainda está tudo por dizer e ao ir desta para melhor já não há nada a aditar. Uma desculpa de mau pagador, em nada impeditiva de continuarmos a ler nas linhas e entrelinhas a mensagem de quem veio não se sabe donde, que andou dum lado para o outro como a fortuna, caso, tempo e sorte lhe permitiram, que foi lançado numa cova comum quando assim adveio e que hoje dizem jazer no túmulo neomanuelino nos Jerónimos e deter um cenotáfio em Santa Engrácia. Os amores, naufrágios, aventuras, desterros e prisões dispersos no rincão pátrio, pelos Algarves d'aquém e além-mar em África, pelas Etiópias, Pérsias e Índias, não têm parado de animar os rastreadores encartados ou por encartar de tentar apurar os mistérios camonianos agentes de mil e uma fantasia lançados aos quatro ventosDessarte, o aporte de Isabel Rio Novo torna-se crucial para desfazer muitos desses mitos e obter uma dimensão mais precisa do século de ouro da nossa cultura cada vez mais afastada do nosso horizonte de eventos. O repto fica feito.

4 de junho de 2025

Olhar & Observar

                        IL SOFFITO DELLA CAPELLA SISTINA IN VATICANO                        
Quando sei a Roma, fai come i romani...

Quando passei de corrida por Roma, não entrei no Coliseu, não vi o Papa, e não visitei a Capela Sistina. Desisti de integrar a fila compacta que me separava cerca de 1,5km dos museus vaticanos e não sei quantas horas para concretizar o ingresso. Depois, não senti um apelo urgente para ver o Sumo Pontífice numa janelinha minúscula da Praça de São Pedro ou para entrar no Anfiteatro Flaviano dos combates de gladiadores, escravos e criminosos mil.  

A falta de tempo para visitar a totalidade dos monumentos papais e imperiais levou-me a selecionar apenas alguns e a virar-me em contrapartida para os exteriores. Deambulei pelos recintos abertos ao público do Vaticano, o mais pequeno estado do mundo; entrei na Basílica de São Pedro e admirei tudo aquilo que havia para ver; Percorri as ruas e ruelas da cidade das sete colinas ou talvez mais. Fui romano entre os romanos. Ecco in poche parole la situazione!

Para olhar e observar devidamente as histórias pintadas por Miguel Ângelo na abóbada e altar da Capela Sistina duas maneiras possíveis. Uma resulta desde logo inviável de realizar, por pressupor esvaziar o recinto das multidões de turistas que o visitam dia a dia e ter os meios necessários para vencer a distância que separa o nosso olhar dos frescos a observar. A outra, mais pragmática, sugere-nos recorrer à ajuda duma boa edição impressa da obra. Foi o que eu fiz.

Com uma edição da Taschen entre mãos, afiro a vantagem de olhar e observar as inúmeras cenas bíblicas, separadas do imenso painel central, lunetas laterais e cantos de esquina ali reunidas a não sei quantos metros do chão ou do monumental Juízo Final colocado ali à frente do nosso raio de visão. Destacar qualquer uma delas seria uma missão votada ao fracasso, máxime porque todas as demais sairiam injustiçadas e, lá diz o ditado, la vita è breve e l'arte è lunga.