Terra Brasilis
Fragmento do Atlas Português de 1519, conhecido como Atlas Miller
[Bibliothèque national de France]
Fragmento do Atlas Português de 1519, conhecido como Atlas Miller
[Bibliothèque national de France]
A mítica rebelião dos seres espirituais do paraíso celestial contra Deus levou à sua expulsão para as profundezas infernais. O portador de luz Lúcifer transforma-se na encarnação do mal conhecida por Satanás e converte-se na serpente tentadora que convenceu Adão e Eva a comerem do fruto proibido da árvore do conhecimento ou da vida. A queda dos anjos insubmissos à vontade divina provocou a subsequente queda do homem, a passagem imediata dum estado de inocência primitiva para um estado de desobediência consciente de culpa. John Milton narra todo este processo etiológico em formato épico no Paraíso Perdido (1667), logo seguido de um redentor Paraíso Recuperado (1671), em que o todo poderoso envia o filho à terra para salvar a humanidade.
Paraíso Terrestre: descoberto e desperdiçado
A memória desses tempos primordiais revelados nos textos sagrados e lendas locais comuns aos fiéis seguidores do Livro terá levado o escrivão Pero Vaz de Caminha a ver a Ilha da Vera Cruz como um jardim de delícias e prazeres sem fim, em boa hora achado por Pedro Álvares Cabral em 1500 quando rumava para a Índia. É essa a ideia que transparece na Carta que escreveu a Dom Manuel no primeiro de maio desse ano. Mas a utopia aí descrita foi de curta duração. As ações de capitães e governadores, príncipes e reis, imperadores e presidentes, converteram mais vezes do que as desejadas a eutopia em distopia e o novo paraíso descoberto passou a paraíso desperdiçado. Assim costumam acontecer as coisas neste espaço terrestre que é o nosso.
ef
Peso das Palavras
O país do carnaval, do cravo e da canela, do cacau e do suor, dos romances do Jorge Amado e das telenovelas da Globo foi a votos. Venceu o discurso do ódio e da violência. Num registo verbal feito de extremos, o peso das palavras perdeu o sentido do racional. A intolerância, o racismo, a homofobia, a misoginia, o belicismo, a xenofobia, destilados a torto e a direito, foram ignorados na hora de decidir. Os males maiores viraram males menores. Fez-se tábua rasa das lições da história. Num registo de dor assumida e repartida, o masoquismo deu cartas ao sadismo. E o mundo espantou-se. É caso para dizer: quanto mais me bates, mais eu gosto de ti. Oportunidade desbaratada esta a da cantada terra abençoada por Deus e bonita por natureza. Absurdo tropical.
Bela e pungente análise, Prof., que bem nos relembra que, na realidade, o paraíso tropical tem sido constantemente maltratado desde a sua descoberta, num ciclo vicioso que não se quebra apesar do registo recente de horrores... E o pior é a tendência obsessiva dos homens para repetirem este cego comportamento destrutivo no mundo, que de paraíso já pouco nos oferece...
ResponderEliminarO país continuará a ser um projeto adiado. A escolha foi realizada de uma forma democrática. Viva o povo brasileiro.
ResponderEliminarDesconfio sempre de quem acha que tem o paraíso nas mãos e se acha possuidor da "iluminação" (divina ou não) de indicar o caminho aos outros, sem atender ao livre arbítrio de cada um de nós, sobretudo quando recorre a meios (através da palavra ou das ações) que são um autêntico atentado aos direitos e respeitos humanos. O Brasil (enraivecido ou atordoado) optou por Bolsonaro. Caso para dizer: "Deus, que está acima de tudo," os proteja!
ResponderEliminar