CORO DI ZINGARIVedi! Le fosche notturne spoglie. | De' cieli sveste l'immensa volta; | Sembra una vedova che alfin si toglie | I bruni panni ond'era involta. | All'opra! all'opra! | Dàgli, | martella. | Chi del gitano i giorni abbella? | La zingarella! || Versami un tratto; lena e coraggio | Il corpo e l'anima traggon dal bere. || Oh guarda, guarda! del sole un raggio | Brilla più vivido nel mio/tuo bicchiere! | All'opra, all'opra... | Chi del gitano i giorni abbella? | La zingarella!Verdi, Il Trovarore (Atto Secondo, Scena Prima)
Opera nel Colosseo
Na década de 70, o Teatro Nacional de São Carlos deixava por uma ou outra noite o requinte aristocrático da Serpa Pinto e dava umas récitas populares de ópera nas plebeias Portas de Santo Antão. Assisti a algumas dessas produções de luxo nas bancadas de madeira ou do pontapé nas costas do Coliseu dos Recreios, à época a maior sala de espetáculos de Lisboa. Ali ouvi cantar em italiano, francês, alemão e inglês. Ali ouvi as vozes de Vincenzo Bello, Mara Zampieri, Alfredo Kraus e Piero Capuccilli. Ali ouvi as obras de Wagner, Puccini, Mozart, Bizet, Donizetti, Rossini, Gershwin. Il canto lirico era allora di moda tra noi ...
Lembro-me com bastante precisão do desempenho memorável da mezzosoprano italiana Fiorenza Cossotto a encarnar a figura incontornável de Azucena, a zingara criada por Giuseppe Verdi para Il Trovatore (1853). Faço-o agora que me foi dada a possibilidade pelo grupo coral Ossónoba de integrar o «Coro degli Zingari», a anteceder a canzone «Stride la vampa», em que a diva brilhou e bisou. Estudei-o na companhia do meu neto de dois anos, que acompanhou com agrado e bateu palmas no final a versão de bel canto alojada no YouTube conduzida por Riccardo Muti. Finché la pianta e tenera bisogna drizzarla.*
Regressado da andaluza Nerja, ainda trago comigo a sonoridade das palavras revestidas de música que ecoaram na sala de concerto daquela cidade mediterrânica, onde em tempos se gravou o Verano Azul. O meu fã incondicional teria aplaudido de pé e exigido um Ancora! Mais do que pelas capacidades canoras do avô, teria vibrado com a arte maior que o grande compositor italiano soube imprimir à cultura operista romântica e de todas as épocas. A intemporalidade do belo ou a sem idade do clássico dá vontade de chamar à colação o apelo vibrante de Giuseppe Verdi e repetir com ele: Torniamo all'antico e sarà un progresso.
NOTA
* Uma versão italiana curiosa do nosso de pequenino é que se torce o pepino.
Caro Artur, também recordo alguns espetáculos operáticos, não muitos é certo, que tive o grato prazer de assistir no Coliseu dos Recreios de Lisboa, há trinta e cinco anos, mais ano menos ano, iniciei a aventura de frequentar o Teatro Nacional de S. Carlos, mercê dos ventos revolucionários que democratizaram o acesso aquele santuário, fiquei rendida para sempre à arte...
ResponderEliminarO São Carlos no meu tempo estava reservado a uma elite muito ciente dos seus privilégios que só os Cravos de Abril mitigaram. O Coliseu e o Teatro da Trindade eram então o refúgio de quem gostava de ópera e não prescindia de a ver ao vivo. Essa a minha situação e bem contente estou, porque a desfrutei ao máximo.
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