O SENTIDO DOS SENTIDOS: AUDIÇÃO
O contexto pandémico em que vivemos o dia-a-dia e os achaques de saúde que entretanto lhe vieram fazer companhia reduziram drasticamente o meu veraneio anual na praia a uma escassa semana, sem banhos refrescantes de mar e poucos ardentes de sol. Para compensar esse défice atípico, trouxe para casa um série de conchas recolhidas no vasto areal de Altura, ainda a cheirar a iodo e algas, para colocar estrategicamente nos ouvidos e escutar assim o som das ondas salgadas e cálidas do sotavento algarvio. De vez em quando ponho-me a ler na varanda que dá para a costa e lá vou vislumbrando ao longe as águas azuis revoltas do Atlântico e tranquilas da Ria Formosa. Recuperar o sentido dos sentidos pressentidos à distância à força da imaginação.
As conchas da praia deste verão resultaram menos audíveis do que as da minha infância. Mais do que da sua dimensão, o melhor será falar da surdez provocada pelo desgaste do tempo que passo a passo lá vai substituindo os sons da natureza por zumbidos constantes a imitar a som das vagas do mar sem necessitar das conchas da praia. Som do silêncio lhe podemos também chamar, se recorrermos a uma linguagem poética compassiva de substituição auditiva. Se resvalarmos para um diagnóstico mais prosaico, podemos admitir tratar-se da mera formação dum tampão ou rolhão de cera nos pavilhões auditivos que um otorrino experiente poderá resolver com uma simples lavagem. Recuperar os sentidos do sentido perdido para além da força da imaginação.
Caro amigo, em primeiro lugar há que tomar as devidas providências para resolver o problema junto do otorrinolaringologista, que palavrão...
ResponderEliminarDepois é desfrutar do som do mar, quer através das conchas, prática usual entre pequenos e crescidos, quer sentado na sua varanda... Viva!
Alguns problemas de audição já foram em tempos resolvidos por essa tal especialidade que é um palavrão, mas nessa altura tinha menos 30 anos. Agora terei de resolver primeiro outros problemas mais urgentes para depois me dedicar à audição e restantes sentidos em processo de desgaste progressivo. Entretanto cá me vou contentando com as aproximações da conchas da praia e com as vistas da varanda.
EliminarRápida resolução, do que é resolúvel e paciência para o resto... é o preço que se paga pela vida! ;-)
EliminarBeijos e abraços
Lembro-me de estar na praia, quando criança, a escutar os sons dos búzios, ampliados pela música do mar e do vento. Tenho uma pequena coleção de búzios e conchas que trouxe da minha terra natal mas que, para meu desencanto, já não me transmitem os sons da infância. Não sei se é da audição que vai diminuindo ou se é da falta de imaginação... Ainda bem que posso ir lavar a alma de vez em quando junto ao mar e sublimar as angústias dos meus dias. Por isso, bem te entendo... Que a tua saúde melhore em breve para te permitir desfrutar, como dantes, das delícias de estar junto ao mar. Entretanto, a tua criatividade irá ajudar-te a passar estes dias na tua varanda virada para o mar, ouvindo com o coração todos os sons que registaste durante a tua vida assim perto da Ria Formosa. Sonhar é meio caminho andado!
ResponderEliminarO problema da falta de audição das ondas do mar provavelmente está associado também às falhas de memória. Tenho de voltar à praia e procurar um búzio. Provavelmente funcionará um pouco melhor do que com as conchas de bivalves...
EliminarTens, na foto, um hexaplex trunculus que deve dar para escutar as ondinhas da ria :-)
EliminarJá aprendi o que é um «hexaplex trunculus», mas o som das ondas do mar ou da ria continua muito longínquo...
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