MOINHOS DA BORDINHEIRA [Estremadura: Lisboa - Torres Vedras] URBAN SKETCHERS PORTUGAL: DESENHAR MOINHOS - PEDRO ALVES |
Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento...
PROVÉRBIO CHINÊS
Nos tempos da minha meninice estremenha, passava grande parte das minhas férias grandes, médias e pequenas na Lourinhã, a meia dúzia de passos do mar. Daqui é originária a minha família materna, local de casamento dos meus pais e de naturalidade do meu irmão. Eu acabei por ser gerado e criado nas Caldas da Rainha, nado no Hospital de Santo Isidoro, agora transformado na Biblioteca da Escola Superior de Artes e Design. Premonições longínquas.
Poucas memórias guardo da infância pré-escolar que passei na cidade natal. Os meus pensamentos mais remotos estão reunidos no espaço restrito do casario da vila e dos casais dos lugarejos que a rodeiam. Lembro-me das visitas ao local onde se erguia o castelo há muito demolido, à igreja românica então encerrada, às merendas com primos e mano no pinhal grande, nas cheias do rio local, nas idas em grupo à praia da Areia Branca. Ressonâncias distantes.
Com a avó Cristina, cruzei campos e veredas, galguei montes e colinas, venci trilhos e atalhos, traçados a perder de vista por miría-des de pés. Navios em terra com o mar à vista. À ida levávamos um saco de trigo em grão. No regresso trazíamos o saco cheio de farinha moída. Pelo meio do caminho ainda apanhávamos serralhas e erva-agulha para os coelhos e caruma e pinhas para o lume. Economia doméstica doutros tempos. Reminiscências longevas.
Evocações que me trouxeram os aromas perdidos da farinha de trigo torrada numa frigideira a encher o prato cavalinho do dejejum matinal. As farinhas Amparo, Predileta e 33 viriam mais tarde com o chamado progresso. O coelho caseiro guisado no tacho com batatas, depois de engordado com a erva rasteira dos caminhos do moinho de vento da minha infância. Tudo preparado à antiga no enorme fogão de lenha da cozinha. Fragrâncias pantagruélicas.
Depois de ter sido achincalhada durante longas décadas como a Terra da Loba, agora é apelidada como a Terra dos Dinossauros. Sempre a crescer em bravura e tamanho. Depois da Estremadura ter sido considerada uma das regiões litorais dos moinhos de vento, passou a ser a região dos moinhos eólicos. Sai o trigo moído e entram as energias renovadas. Abençoada nortada que tão útil é. E depois dizem que tudo o vento levou. Maledicências ancilosadas.
Eólicas - Casalinhos de Alfaiata - André D. B. |
Felizes reminiscências, Prof., que ganham acentuado sabor em dias de confinamento! A infância, esta fase da vida inocente que foi o barro a cimentar as nossas raízes, moldando a forma que fez o ser humano que somos hoje... Benditos os moinhos de vento, antigos e modernos, que fazem parte da nossa memória e nos deram a lição de que, na natureza, tudo se transforma mas nada se perde.
ResponderEliminarReminiscências que pertencem à minha infância feliz e despreocupada, imagens de marca que me sussurram ao ouvido memórias que quero preservar a todo o custo nalgum sítio, antes que o tempo me falte de vez. O moinho de vento surge-me frequentemente e todo o cenário que os acompanha e identifiquei na história completam à perfeição…
EliminarAdorei! "Os pequenos títulos em final de cada memória, sao fantásticos como remate! E o moinho sempre presente! Lindo!
ResponderEliminarTambém tenho as minhas...em Montachique. Um dia conto-vos!