6 de janeiro de 2022

Uma romã no Dia de Reis

A ROMÃ
Ana Hatherly
« Le symbolisme de la grenade relève de celui, plus général, des fruits à nom-breux pépins (cédrat, courge, orange). C'est, tout d'abord, un symbole de fécon-dité, de postérité nombreuse : dans la Grèce antique, elle est un attribut d'Héra et d'Aphrodite ; et, à Rome, la coiffure des mariées est faite de branches de grenadier. »
FRUTA DA ÉPOCA
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O primeiro dia do Ano Novo começa e termina sempre com uma dúzia de uvas passas, preparada na última noite do Ano Velho. Representam-se assim as doze badaladas da 1/2 noite e dá-se passagem de testemunho para o Ano Bom. Costuma ainda brindar-se com uma flûte de champagne ou de espumante. Em ambos os casos, a uva desidratada ao sol ou fermentada em cave é rainha e senhora, símbolo de prosperidade, fartura, longevidade, fertilidade e plenitude desejadas num novo ciclo renascido.

À falta de ouro, incenso e mirra requeridos pelos mitos e contramitos bíblicos neotestamentários, sobejam os frutos secos e cristalizados à mesa de Natal, Ano Novo e Reis. Figos, peras, cerejas e cascas de laranja a brilharem no bolo-rei a rivalizarem com as nozes, pinhões, avelãs e amêndoas do bolo-rainha. Representados também com maior ou menor protagonismo no panettone italiano, no christmas pudding britânico, na galette des rois gaulesa, no roscón de reyes hispânico ou no Apfelstrudel  germano-austríaco.

Ao que dizem as crenças ancestrais dos povos, o festival de fruta omnipresente nos dias de festa simboliza a prosperidade, a fartura, a longevidade, a fertilidade e a plenitude almejadas para todo o ano, máxime no render da guarda dum ciclo sazonal por outro. As castanhas calóricas dos troncos de natal e as ameixas conservadas em calda de açúcar a marcarem, umas e outras à sua maneira, um rito ancestral de mudança dos gelos invernais duma velhice final para a pureza primaveril duma juventude renovada.

No Dia de Reis a romã continua a reinar, não fosse ela (que eu saiba) o único fruto coroado à mesa, convertendo-se na rainha da festa, a rivalizar com os três reis magos do oriente e com o casal real em forma de bolo. Destronados ficam o melão e o ananás, muito embora possam fazer companhia como meros vassalos à rival da polpa vermelha, suculenta e granulada, personificação alegórica dos desejos sensuais, da imortalidade e da prosperidade. Que mais se poderia desejar dum fruto real numa mesa republicana.  

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2 comentários:

  1. Feliz Dia de Reis!
    Passando o ano noutras paragens, não comi as passas à meia noite. E hoje, nem uma romã à vista no meu dia. Terei de me contentar com frutos secos e outras frutas como promessa de prosperidade para o ano que ora se inicia.

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    1. Histórias d'Arthur d'Algarbe9 de janeiro de 2022 às 09:55

      Celebra o Dia de Reis com tâmaras frescas do Egito, que colhidas na origem sempre são melhores do que as comprados nas grandes superfícies. E, depois, sendo os magos do oriente, até vão compreender e aceitar com um largo sorriso a inovação. Boas celebrações reais com ou sem romãs à mesa e tudo de bom para o que aí vem...

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