17 de maio de 2024

O status mata-frio do capote alentejano

capote alentejano castanho

Não, não é o capote que tive, usei e perdi nos anos 70, mas não desdenharia que fosse meu. Esta foto saquei-a na Net. Aquele que em tempos vesti novinho em folha foi-se de vez há uma eternidade. Gasto, coçado, puído.

Lembro-me com frequência daquele capote alentejano trazido por mão amiga diretamente de Elvas. Ter-me-á custado a módica quantia de 65$00, uns meros 0,32€ impensáveis nos dias que agora correm a grande velocidade.

Durante dois/três anos letivos, serviu-me de traje académico, numa altura em que a capa e batina estavam tacitamente vedadas em Lisboa. Adaptei-o consoante a necessidade do momento a cobertor, toalha e almofada.

Desisti de adotar um de novo igual ao de então. Nunca vi nenhum aqui por estas bandas meridionais. Pesados, quentes, incómodos. Os modelos das vestimentas atuais seguem outros padrões. Europeus, mundiais, globais.

O status mata-frio do capote afirma que a chuva forte molha o capote e quem anda de capote no verão ou é pobre ou ladrão, i.e, se quem tem capa sempre escapa, então com gabão escapa ou não e com capote escapa a galope.

4 comentários:

  1. Texto excelente.

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  2. Teresa Salvado de Sousa21 de maio de 2024 às 08:38

    Muito giro o texto. Diz-nos o conversor da Pordata que os teus 65 escudos de 1970 valem agora 22 euros. Por outro lado, nas lojas o capote custa entre 290 e 390 euros. Já não fiz foi a proporção entre o preço do capote então e agora e o salário para ver o que o índice Capote nos diz da nossa economia e da evolução da nossa vida. Mas o índice capote é bem mais giro do que o índice McDo

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  3. Magnífica vestimenta!
    Recordo-a bem, numa altura pensei em ter um, meus pais não deixaram… não era coisa de rapariga, em alternativa, desfrutei até gastar de umas botas alentejanas de cano alto.
    Tinham 4 protetores nas solas, consegui escorregar e ir ao chão apenas uma vez, foi cá um “bate-cu”!

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    1. Nunca tive umas botas alentejanas de cano alto e rangedeira que, com o capote, daria um look impressionante, mas pouco prático para calcorrear as ruas, ruelas, travessas, calçadas e colinas da nossa Lisboa. Em contrapartida, também dei um bate-cu monumental no chamado rio das maçãs que desagua na praia que lhe dá nome em Sintra. Calçava umas botas enormes com sola silenciosa de borracha e na tentativa de saltar em duas passadas duma margem para a outra escorreguei nos limos duma rocha que ali se encontrava despreocupada da vida. O capote ficou encharcado e com a seu excesso de tecido protegeu-me um pouco do mergulho inesperado. Depois seguiram-se outras peripécias que agora guardo para outra histórias ou talvez me fique mesmo por aqui…

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