Vicent van Gogh„Oude man in verdriet - op de drempel van de eeuwigheid” (1890)[Kröller Müller Museum – Otterlom – Nederland] |
EXPRESSIONISMOS OLHADOS E PINTADOS
Olho o «Velho em tristeza no limiar da eternidade» (1890) com o olhar cristalizado, que Vicent van Gogh lhe outorgou a duas dimensões coloridas, nos olhares de quem o olha e é olhado. Olho-o também eu com o olhar emprestado de quem o olhou à distância ou de perto, ao longo dos anos que ali permanece imóvel, sentado à espera que a morte chegue e nunca mais chega. Gloriosa, libertadora, irrepetível.
O velho que é olhado por quem o quer olhar baixa o olhar e não nos quer olhar. Olhar de quem está à espera de partir para outros espaços sem olhares à vista reserva-se o direito de se deixar olhar de olhos tapados. Olha para dentro de si mesmo como só ele sabe olhar. Pede a ajuda das mãos. Dedos crispados junto aos olhos selados. Quem o olhar que imagine o que o estará a olhar com um olhar velado.
Imagino olhá-lo de cabeça levantada e rever o olhar com que o meu avô materno me olharia depois de ter ido ao encontro da eternidade era eu uma criança. Exercício difícil de realizar com o paterno que não cheguei a conhecer. Duro também recriar o olhar do meu pai que não teve tempo de chegar a velho como o velho que olhamos sem ser olhados no Kröller Müller Museum de Otterrlom nos Países Baixos.
Olho e reolho o velho da tela e não me vejo e revejo em tristeza à espera que a morte chegue. Os olhos com que me olho agora são os olhos com que sempre me olhei sem nunca se deixarem olhar olhos nos olhos como se olham os olhos dos outros. Não me quero olhar a ser olhado assim, a imitar os expressionismos olhados e pintados pelo pintor no ano exato em que partiu ao encontro da eternidade.
Lembro-me de olhar o meu pai nos seus últimos dias de vida a fugir com o olhar para a gente não ver nos seus olhos as dores que o assaltavam. Contudo, nunca vi nos seus olhos o olhar de quem pensa na morte que se avizinha mas sim de quem nos queria poupar o olhar do sofrimento. É tudo que quero quanto ao olhar alheio sobre mim na velhice, que os meus olhos não mostrem o olhar da morte anunciada.
ResponderEliminarNão cheguei a despedir-me de minha avó materna e de meu pai.
ResponderEliminarProvavelmente acontecerá o mesmo com minha mãe, a distância não perdoa.
Só lamento as vidas difíceis que tiveram.
Sinto que me acompanham, e tudo faço para que tenha valido a pena.
Como irei ao encontro de Hades, desconheço, claro, que seja com um livro nas mãos…