O Pecado Original e a Expulsão do Paraíso Michelangelo Buonarroti, Vaticano - Cappella Sistina, 1508-1512 |
O Senhor Deus disse: «Eis que o homem, quanto ao conhecimento do bem e do mal, se tornou como um de nós. Agora é preciso que ele não estenda a mão para se apoderar também do fruto da árvore da Vida e, comendo dele, viva para sempre.»
O Senhor Deus expulsou-o do jardim do Éden, a fim de cultivar a terra, da qual foi tirado. Depois de ter expulsado o homem, colocou, a oriente do jardim do Éden, os querubins com a espada flamejante, para guardar o caminho da árvore da Vida.Génesis. 3, 22-25
Era uma vez um deus sem nome que, para ocupar o tempo que não lhe faltava, resolveu criar um jardim pessoal e entregá-lo de guarda ao homem, um ser semidivino feito com barro amassado em água e animado com o sopro divino do demiurgo. Foi-lhe porém vedado o pomo do conhecimento, o que não se coibiu de infringir e sofrer as consequências, ser expulso do vergel que lhe havia sido confiado por ter cometido o designado pecado original.
Era uma vez um herói tebano que matou o pai e casou com a mãe. Subiu ao trono vago da cidade órfã do rei caído às mãos do filho e originou uma das tragédias áticas mais modelar da paideia grega antiga. O novo tirano tinha os dias e as noites contados pela poder punitivo do pai dos deuses olímpicos. Os erros juvenis conscientes cometidos pelo soberano assassinado deveriam ser assumidos na íntegra pelos atos inconscientes do herdeiro real.
Era uma vez um filho-do-vulgo que ideou ser um filho-de-algo, apesar do pai ser um mero presidente eleito duma res publica secular. Como infante lusitano ou príncipe real que julgava ser, começou a exercer um forte tráfico de influências em nome do progenitor, que conduziria a um resultado inesperado e um desfecho desconhecido. O pai virou-lhe as costas, sacudiu a chuva do capote e sem dó nem piedade arremessou todas as culpas para o filho.
Se na transgressão bíblica, o pecado original recai sobre os pais, que o legam aos filhos; se na hybris helénica, a perversidade do pai recai sobre o filho, que não a transmite a ninguém; no caso atual, o abuso do filho é delatado pelo pai que o incrimina de tudo. Cá se fazem cá se pagam. Amigos amigos, negócios à parte, ou, como sói dizer-se, quando o mar bate na rocha, quem se lixa é o mexilhão. E assim se gizam os mitos, as lendas e as histórias.
Adoro os "provérbios à mistura"! Nada como uma conclusão à guisa de um bom, ou mais, provérbios.
ResponderEliminarA «vox populi» secular ainda tem algum peso para quem a souber ouvir...
EliminarArtur, este conteúdo, tão elegante quanto profundo e claro, me fez lembrar de um avô com seu neto no colo, assistindo atentamente a Abelha Maia...
ResponderEliminarSubscrevo cada palavra, da conclusão.
ResponderEliminar