CLARA PEETERS Stilleven met kazen, artisjokken en kersen, c. 1625 [Los Angeles, LACMA] |
Gostos, Paladares, Sabores, Gulodices
Há tantos queijos franceses como dias tem o ano. Dizem. Não me custa a acreditar que assim seja ou que até os ultrapasse. Basta visitar uma crèmerie local para o confirmar. Os guias gastronómicos que os elencam, descrevem e localizam, dão-lhes também um nome próprio e um apelido de família, excedendo facilmente a barreira das três centenas de designações distintas, distribuídas pelos plateaux de fromages à base de lait de vache, de chèvre et de brebis.
O número de queijos portugueses é de longe menor. Na infância, cheguei a pensar que o cardápio se reduzia a três únicos casos: Saloio, Merendeira e Flamengo. Mais tarde descobri os gostos, paladares, sabores e gulodices do Serra, Ilha e Azeitão, ampliados depois com a concorrência cerrada do Serpa, Nisa, Castelo Branco e alguns mais. Um manjar dos deuses de fazer crescer água na boca, um estímulo para o palato e demais órgãos dos sentidos.
A fusão de duas ou mais sensações na presença de algumas iguarias comestíveis tem o condão de aguçar o apetite incontrolável próximo da gula. Para os apreciadores, o queijo tateia-se com o nariz, saboreia-se com os odores que exala, admira-se com os olhos que o devora, provoca a salivação só de ouvir soletrar o nome de alguns deles, antecipa todos os prazeres do paraíso, mal toca o céu-da-boca. Sinestesias gustativas difíceis de traduzir por palavras.
Leon-Paule Faque refere-se ao Camembert, como o queijo que cheira aos pés do bom deus. Imagino o que diria este poeta sobre o Munster da Alsacia-Lorraine. Decerto o mesmo que terá pensado uma passageira de autocarro sentada ao meu lado num percurso de Lisboa-Faro, quando os calores de julho lhe fizeram chegar ao nariz os vapores exalados por um exemplar que eu comprara numa loja gourmet da capital e depositara piamente debaixo do banco.
Gostos, paladares, sabores e gulodice não se discutem ou partilham. O tópico triângulo pão-queijo-vinho só se aplica a alguns. Tal como o recurso aos pimentos amarelos, tomates vermelhos, uvas de todas as cores, aipo, alcachofras e cerejas. Iguarias para delícia da vista-boca-mãos-ouvidos-nariz de quem as enxerga, mastiga, toca, escuta e cheira, a dizerem a uma só voz de sua justiça no prato onde são postos, para serem desfrutados com todos os sentidos.
Isto é para causar inveja 😁? Bom, nesses "cheirosos", para mim, é de incluir o livarot (nunca comi maroilles, não me pronuncio 🙂). E que tal o picante ou queimoso da Beira Baixa? Quando era criança, eu fugia a sete pés do mercado do queijo do Fundão, já que não o podia fazer das casas onde no-lo serviam, embora nunca o comesse 😁 (agora muito bem comportado, nas zonas dos frios dos supermercados não cheira a nada 😀)
ResponderEliminarUma das minhas últimas descobertas está centrada em todos os queijos produzidos na Gardunha e arredores e, como já disse várias vezes, o cheiro não me incomoda absolutamente nada. Abençoado mercado do Fundão que tanta escolha nos oferece.
Eliminar"Arturinho", de ler, já fiquei com água na boca! Como tu dizes e muito apropriadamente: "Um manjar dos deuses de fazer crescer água na boca, um estímulo para o palato e demais órgãos dos sentidos."
ResponderEliminarConheço portugueses e franceses e, há pouco, experimentei um ucraniano, divino!. Qdo estive em Almodôvar a minha diversão, (na altura estava grávida, o que apimentava os "Desejos") deslocava-me, amiúde, para a "fábrica" onde faziam os queijos, para comprar ou ir a provas. Era um ritual!😅 Depois, passava no "Forno", local das velhotas padeiras e comprava um pãozinho quentinho...e lá ia eu para casa, apressadamente...😜
Para quem gosta de queijo, todos eles são bons e quanto mais fedorentos melhor aguçam o palato, portugueses, franceses, holandeses, como os da pintura, e de todas as nacionalidades...
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