16 de julho de 2024

Sentidos consentidos

PERPÉTUAS-DAS-DUNAS

Sentado numa cadeira de abrir/fechar na praia da Alagoa em Altura, sinto o sol a tatear-me as partes do corpo expostas à natura, livres de vestuário e protegidas por um finíssimo filtro solar 50+ fabricado num centro termal com pedigree do além-Pirenéus. Os raios do astro-rei a traçarem uma rosa-dos-ventos completa: norte, sul, este, oeste.

O meu olhar daltónico vislumbra um mar pintado de azul vivo na lonjura do horizonte meridional, esverdeado a meia distância do meu ângulo de visão e a desvanecer-se na transparência translúcida, sem cor definida, antes de se transformar no branco total da mexida rebentação das miniondas no areal dourado junto aos meus pés.

Paira no ar um perfume intenso emanado das perpétuas-das-areias, trazido até mim por uma ligeira brisa setentrional a soprar sobre a imensidade das dunas estendidas ao longo do sotavento algarvio. Fragrâncias suaves a misturarem-se com o leve olor a maresia que se faz sentir bem à beira-mar onde estrategicamente me deixo estar.   

Dum lado e doutro, ouve-se o refrão das bolas-de-berlim, a aguçar o palato de miúdos e graúdos. Com creme ou sem creme e sempre com muito açúcar. Resiste-se ou sucumbe-se. Uma por ano ou por semana, é como o Melhoral, não faz bem nem faz mal. Os sentidos consentidos agradecem e suspiram por mais. Talvez sim, talvez não.

2 comentários:

  1. Bonito e expressivo texto. O suave cheirinho da marcela é um bálsamo.

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  2. Texto estival e terno… consegui sentir o cheiro das plantinhas das dunas, e vi-me sentada na toalha a olhar o mar e impaciente por degustar uma suculenta bola de Berlim… uma vez por outra não fará mal… muito pelo contrário!

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